O último Tango da AnonOpsBrazil (fim das páginas)

maio 16, 2016 | Artigos e Publicações, Cultura Digital, Legislação, Manifestações | 0 Comentários

“É mais válido um instante de vida verdadeiro, do que anos vividos em um silêncio de morte.” (Mikhail Bakunin)
Caros companheiros de luta, seguidores e interessados em geral. Anunciamos oficialmente, após uma decisão coletiva tomada no dia 15 de maio de 2016, o encerramento definitivo das atividades das páginas AnonopsBrazil e Asor Hack Team . Esta decisão reflete a impossibilidade de estarmos no momento expondo nossa atuação Hacking no Brasil. Tal atitude, não denota em hipótese alguma o fim do compromisso com a luta social assumido pelos seus participantes. Independente do fim das páginas AnonopsBrazil e Asor Hack Team.
Em 2014, durante a Copa do Mundo, no Rio de Janeiro, foi pedida a quebra de sigilo de 20 páginas ( inclusive AnonOpsBrazil) e 52 perfis individuais, no inquérito contra ativistas, conforme reportagem da Folha (http://naofo.de/11ti). O Facebook, que a princípio se negou a ceder os dados, foi ameaçado de ser retirado do ar em todo o Brasil. Todas as operadoras de telefonia celular do Rio de Janeiro também entregaram os dados e forneceram escutas telefônicas e monitoramento de deslocamento por meio dos aparelhos celulares; Vivo, Tim, Oi e Claro. A criptografia de dados em computador, o uso de comunicação segura e o uso do TOR são assinalados pela polícia como um fator de suspeita e criminalização. A utilização de Linux também é colocada como um fator de criminalização.
Além disso, os algoritmos do face são desenhados para nos censurar, em época de perseguição e monitoramento ( jogos olímpicos), não é uma atitude inteligente estar no facebook. Vale a pena realmente, principalmente considerando que é uma empresa que analisa e cataloga o comportamento de usuários e não-usuários rotineiramente, que já fez experimentos sociais de manipulação com seus usuários sem que eles dessem um consentimento realmente esclarecido? Qual o limite? Não para anonymous!
Recentemente, Anonymous declarou guerra contra as operadoras de telefonia e Anatel, com isso, o simples ato de sobrecarregar um servidor ( deixar a página offline) é uma punição totalmente desproporcional com, no mínimo, 16 anos de prisão( conforme a leia antiterrorismo) Ou seja, para quem “violar, bloquear ou dificultar o acesso a páginas da internet, sistema de informática ou banco de dados, será enquadrado na lei.E para deixar a aplicação das penas ainda mais eficaz.
” IV – sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento;”
Todos os pontos da lei são extremamente genéricos, inclusive os que tratam “crime” de informática (16 anos). Um deface (alterar a página inicial de um site) será considerado terrorismo? Um ataque de negação DDos (deixar um site offline) de serviço? Cabe lembrar que para ambos os casos já existe precedente internacional de legalidade enquanto manifestação . E vazamentos de interesse público, terrorismo? A própria parte que fala sobre coagir autoridades, o que seria isso? O executivo e legislativo funcionam na da base pressão popular, isso seria terrorismo?
Ainda há muito preconceito em torno de Anonymous no ideário das pessoas. Há quem pense que Anon seja apenas um grupo” hacker, e mesmo a mídia corporativa reforça este conceito. Além disso, há quem considere os sujeitos que se apresentam simpatizantes da Ideia, como sendo baderneiros e imaturos que se utilizam dos meios digitais sob o anonimato para perturbar pessoas ou realizar práticas de assédio moral contra elas.
Anonymous é o anseio humano por justiça, liberdade e novas formas de organização social nas quais não haja necessidade de poder. Nesse processo, duas coisas são essenciais de o sujeito reconhecer: primeiro, que não é sua pessoa que realiza a luta. O indivíduo é o canal através do qual Anonymous flui e realiza suas práticas, e mais um nodo na mente coletiva que Anon compõe. E, segundo, que as ações por meio de Anonymous, sejam elas nas ruas ou nos meios digitais, não são um fim em si mesmas. Sejam as mais pacíficas ou as de caráter mais invasivo ou tumultuado, as práticas de Anonymous possuem como base a conscientização social, o esclarecimento do povo acerca das relações de poder que o cercam, os bastidores de tal trama, e os caminhos que se deve trilhar para que mais e mais pessoas se libertem do vazio existencial que o sistema impõe nas mentes, e da domesticação a que se sujeitam os dependentes do sistema.
O principal papel do hacktivismo é dar voz às causas que muitas vezes não conseguem visibilidade expressiva através de métodos de compartilhamento tradicionais. Isso porque ele se utiliza de formas “transgressoras” para agir. Se formos analisar os casos de grande repercussão de hacktivismo, a maioria dos ataques que ocorrem é ambiguamente legal e ilegal ou puramente ilegal. As investidas – que podem ir do sobrecarregamento de sites através do amplo número de visitas até a derrubada completa ou invasão de sistemas – são suficientes para desestabilizar de alguma forma a instituição atacada (sendo essa muitas vezes o governo ou uma organização envolvida em operações que divirjam do interesse público).
Acabou a bolsa mortadela? Não, seguidor bolsominion! Não fazemos parte de nenhum partido porque somos a favor da autogestão, organização das pessoas por elas mesmas, quebra de hierarquia (fortemente presente dentro de qualquer partido de esquerda ou direita) e consequentemente da horizontalidade nas relações sociais. Tampouco somos a favor de qualquer ideia de Nação ou unidade nacional, porque em nossa concepção, essa ideia territorial e ideológica separa as pessoas em fronteiras políticas e muitas vezes dificulta nossa união – somos internacionalistas.
Temos muitos agradecimentos a serem feitos, sendo difícil até mesmo enumerá-los. Agradecemos a todos aqueles que apoiaram a página o em todas as suas fases de alguma forma e nos sentimos muito recompensados em ter deixado algum tipo de legado, mesmo que diminuto, para prosseguir nessa luta incessante contra o sistema,
Vivemos num mundo para poucos, de uma justiça para poucos, de terras nas mãos de poucos, da educação para poucos, de riqueza para poucos. Um mundo composto por uma elite arrogante, perversa e preconceituosa, que por séculos controla a política em as esferas; estadual, municipal e federal. Isso é global. Por isso, AnonOpsBrazil jamais abandonará a luta. Além disso, é melhor que os corruptos, e os violentadores, e os desumanizadores, que convertem gente em número, força de trabalho e objeto para satisfação de interesses pessoais, esperem por nós, pois nós não perdoamos e não esquecemos, só mudamos de local, voltaremos para o underground.
“Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são imprescindíveis”
(Bertold Brecht)

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