Por que não vamos vencer a guerra às drogas

maio 2, 2017 | Artigos e Publicações, Notícias, Opinião PIRATA | 2 Comentários

por Tim Haslett*

É um truísmo do pensamento sistêmico que sistemas sustentáveis geram seu próprio comportamento. Tecnicamente, isso significa que há sistemas de feedback positivo que mantêm o sistema funcionando. Isso é parcialmente verdade no tráfico de drogas.

A primeira dinâmica importante é a forma que a oferta de heroína mantém o estoque de heroína em uma dada comunidade. Esta dinâmica é a clássica oferta e procura. À medida que a oferta de heroína aumenta, o estoque de heroína na mão de traficantes aumenta. Isso por sua vez diminui o preço, o que faz a oferta desacelerar. Mas quando a oferta desacelera, o estoque de heroína diminui e o preço sobe de novo. De forma geral, haverá um equilíbrio nessa dinâmica.

Aumente ou diminua a quantidade de uma variável para rodar! Clique em “Reset” pra começar de novo e “Remix” para abrir o diagrama em outra página, ou criar o seu! Deslize a barra embaixo para diminuir ou aumentar a velocidade da animação.

A outra parte da dinâmica é a apreensão de grandes carregamentos de heroína pelas autoridades. Tais apreensões diminuem a quantidade de heroína disponível no mercado, fazendo o preço subir e aumentando (o incentivo para a) oferta. A maioria de nós não se dá conta de quão bem organizada é a logística dessa indústria. Apreensões de drogas têm pouco efeito além de aumentar o preço a curto-prazo.

Experimente aumentar as apreensões!

Contudo, há uma consequência do aumento do preço, mostrada no próximo loop. O aumento leva a um crescimento em pequenos crimes: assaltos, roubos de carros, pequenos furtos, etc.1 Essas ondas de pequenos crimes são frequentemente enfrentadas pelas autoridades com uma série de prisões, mandando vários viciados para a cadeia local. A falta de viciados nas ruas leva a uma pequena queda no uso, e uma sobra de heroína no mercado. O fato de que viciados condenados costumam ter acesso a drogas na prisão não é algo em que as autoridades não gostam de pensar muito.

Há uma dinâmica final nesse loop. Ela se chama marketing nesse diagrama e representa o que os traficantes fazem quando eles têm pouca quantidade de droga parada, sem conseguir vender. Eles simplesmente a distribuem para não-viciados na esperança de que eles criem um hábito. Se essa estratégia tiver sucesso, ela substitui o viciado preso com um novo viciado. E lembre-se, o viciado antigo provavelmente ainda está usando heroína na prisão, então o consumo total de heroína provavelmente subiu por causa disso.

A lógica desse diagrama indica que a guerra às drogas não faz nada além de criar flutuações o preço da heroína. Mas essas flutuações, e o aumento de preço que delas resulta, faz aumentar o número de crimes.

As políticas públicas usadas até agora tem sido punitivas: a apreensão de drogas e a prisão de pessoas envolvidas com o tráfico. Essas políticas parecem ter feito pouco pra resolver o problema do consumo de drogas em nossas comunidades. Há na verdade dois outros pontos de atuação2 que podem ser usados. O primeiro é reduzir o número de viciados. Há duas formas de fazer isso, como o diagrama abaixo mostra. A primeira e mais convencional é transformar viciados em ex-viciados, normalmente através de programas de reabilitação.3

A outra abordagem, muito mais difícil, é parar o fluxo de novos viciados. Isso implica em lidar com um enorme conjunto de problemas sociais. É senso-comum que resolver um problema normalmente leva tanto tempo quanto demorou para o problema se desenvolver. Então esse vai ser um processo longo e necessariamente custoso.

O que nos leva ao outro ponto de atuação: o preço da heroína. Se a heroína fosse legalizada, o governo poderia controlar seu preço. Ele ainda poderia coletar impostos da venda de heroína e usá-los para financiar projetos de reabilitação, ou ainda colocar o preço bem abaixo daquele ditado pelo tráfico ilegal hoje.

Estas soluções não são perfeitas mas fornecem uma alternativa melhor que a “guerra às drogas.”

Tradução originalmente publicada por Rafael Viana

2 Comentários

  1. Luís Gustavo

    Tem a opinião do Michel Moore que postei em tópico mais recente, a ver com este assunto. “Agora falando sério, sobre crimes como pretexto para governos fazerem maldades, documentário do Michel Moore, “Where to Invade Next (2015)”. SPOILER ALERT!! Ele demonstra/opina, como o nascimento da política de combate às drogas nos states nasce como contraponto ao reconhecimento de direitos civis para os negros e permite, na prática, um retorno o apartheid social e uso de mão de obra escrava.”

    Responder

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