[OPINIÃO PIRATA] Tudo pode mudar em um dia de Ano Novo / “Everything can change on a new year’s day” (Rage Against The Machine)

jan 1, 2016 | Artigos e Publicações, Ativismo, Cultura Digital, México, Opinião PIRATA, Pirataria | 0 Comentários

por DanPrazeres

Dia 1º de Janeiro de 1994, há 22 anos, entrava em vigor um dos tratados econômicos mais importantes para o neoliberalismo global: o NAFTA (Acordo Norte-Americano de Livre Mercado), englobando o Canadá, os Estados Unidos e o México. Também nesse dia um exército armado camponês indígena mexicano se mostrou para o mundo tomando conta de vários gabinetes do estado de Chiapas e declarou guerra ao governo. Chamado de Exército Zapatista de Libertação Nacional, sua imagem influenciou movimentos ao redor do mundo de maneira revolucionária.

Dia 1º de Janeiro de 2006, há exatos 10 anos, Rick Falkvinge, um sueco que trabalhava no setor de tecnologia da informação, na esteira do proto movimento pirata que existia lá com o Piratbyran (Bureau Pirata) resolveu lançar um site com o intuito de criar um partido com pautas que considerava que não eram valorizadas pelos outros, como debate sobre direitos autorais, patentes e compartilhamento de arquivos, pautas que logo se viram presentes em todo o mundo digital no século XXI, e assim se formava um dos embriões do Movimento Internacional de Partidos Pirata.

Por mais que tenham origens bens diferentes, o ponto em comum entre esses dois fatos é uma vontade simples, mas que se manifesta de maneira complexa, que é a de querer mudar o mundo à nossa volta. Ambos questionam nossos sistema políticos, os partidos políticos que hegemonizaram e corromperam a democracia dita representativa, nossos sistemas econômicos com a concentração de renda em grandes coroporações em conluio com os governos. Acima de tudo, ambos mostram um caminho que é cada vez mais sem volta no 3º milênio: o mundo é feito de pessoas, e elas que tem de ganhar espaço para dizer como ele tem que seguir, não mais instituições caducas criadas quando o poder era exercido por uma panela de pessoas privilegiadas.

Esses dois pontapés deram início a reações em cadeia que nem de longe eram esperadas pelos movimentos. No México o EZLN não conseguiu que houvesse uma insurgência popular contra o governo a ponto de derrubá-lo, focando sua luta imediata em resistir em Chiapas. Entretanto, suas ideias baseadas na horizontalidade, no governo do povo – onde o povo manda e o governo obedece – influenciaram de maneira profunda os movimentos horizontais, autonomistas e antiglobalização do final dos anos 90 e suas ramificações ao redor do mundo, como no Brasil em que o MPL, um dos principais agentes sociais dos levantes populares de 2013, teve no EZLN uma forte inspiração para o surgimento e continuidade da luta. O Partido Pirata Sueco, por sua vez, apesar de alguns êxitos iniciais, enfrentou uma série de dificuldades internas e externas, estando hoje sem o mesmo prestígio que anteriormente tinha. Apesar disso, o movimento se espalha pelos 5 continentes, com um escopo maior do que apenas o meio digital, e tem conquistado vitórias eleitorais em alguns lugares na Europa que levam inclusive ao Partido Pirata Islandês a sonhar em ganhar as eleições de 2017.

A mensagem principal que esses dois movimentos passam é a de buscar mudar o mundo. Muitas vezes os problemas à nossa volta são os mesmos em lugares muito diferentes. E, mais do que isso, os resultados dificilmente serão imediatos. Mais do que fazermos promessas que em 2016 nós devemos nos empenhar em mudar tudo que tem de ruim e colher os frutos que surgirem no nosso quintal, nós temos que pensar em espalhar sementes pelo mundo. Afinal, embriões de árvores imensas podem surgir no dia de Ano Novo, ou em qualquer outro dia do ano, mas é essencial lembrar que elas não surgem do nada.

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