Globo usa copyright para censurar críticas

abr 30, 2016 | Artigos e Publicações, Notícias | 1 Comentário

do Techdirt

Como já explicamos mais de uma vez, copyright e censura andam de mãos dadas. Pessoas que praticam censura parecem amar o poder que o copyright lhes dá. Vejamos, por exemplo, a gigante da mídia brasileira Globo. Como vocês talvez já tenham ouvido, há uma grande luta política ocorrendo no Brasil, uma vez que o Congresso deseja o impeachment da Presidente Dilma Rousseff. É uma grande bagunça política tornada ainda mais ridícula pelo fato de que muitas das principais vozes que buscam aprovar o impeachment são eles mesmos acusados por corrupção ou estão sendo investigados por corrupção. Na última semana, David Miranda escreveu um artigo para o The Guardian argumentando que o assunto todo tem natureza política e que as acusações de corrupção contra a Presidente Dilma Rousseff são apenas um pretexto para um partido de oposição ganhar poder. Nesse artigo ele culpa os principais veículos de comunicação no Brasil de apoiar essa farsa e reforçar uma narrativa anti-Dilma Rousseff.

A história da crise política no Brasil, e a mudança rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.

Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?

A TV Globo aparentemente não estava feliz com isso e pediu ao Guardian para postar sua resposta, escrito pelo chefe do Conselho Editorial da Empresa, João Roberto Marinho, que aparentemente é o herdeiro do Império da Globo.

Miranda então respondeu ao Marinho no Intercept, para mostrar que a Globo vem atuando de forma extremamente  enviesada para forçar apenas um lado da história no Brasil. Miranda percorre a história de certa maneira sórdida da Globo como um braço de propaganda e refuta cada passo a passo cada uma das afirmações de Marinho. Próximo do fim ele tenta mostrar o quão parcial a cobertura da Globo foi:

Por mais de um ano, uma capa atrás da outra, a revista Época usou imagens manipuladoras e detratoras para incitar o público a apoiar oimpeachment. O Twitter das estrelas da Globo – do jornalismo e do entretenimento – estão cheios de propaganda cotidiana a favor do impeachment. Mesmo quando o Jornal Nacional tenta negar que está colocando grande peso a favor dos protestos pelo impeachment, não funciona: glorificam esses protestos e dão a eles muito mais tempo do que os protestos opostos:

Depois disso, ele linkou um vídeo demonstrando tudo isso… mas logo depois que o artigo foi ao ar o video ficou assim:

Sim. A Globo repentinamente decidiu fazer uma reivindicação no video que estava sendo usado no artigo para demonstrar como sua cobertura estava sendo incrivelmente parcial. Esse vídeo esteve no ar por meses antes disso sem qualquer problema, mas um pouco depois dele ser incluído no artigo de Miranda ele tinha sumido. Puf.

E há quem ainda afirme que copyright não é regularmente usado como uma ferramenta para a censura?

Sim, o conteúdo do vídeo é conteúdo da Globo. Mas ela não derrubou o vídeo sobre quaisquer preocupações sobre licenças ou “pirataria”. Ela agendou a derrubada para claramente ocultar o vídeo do público que estava lendo o artigo de Miranda. É puramente um movimento de censura, e o copyright é apenas a ferramenta mais conveniente para isso.

Felizmente, subiram o vídeo em outros lugares, mas apenas pense: o que irá acontecer se a indústria do entretenimento conseguir ter sucesso em propor um regime de “notice and staydown“? Esse tipo de censura irá se tornar muito, muito mais efetiva.

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