Eleições no México em xeque

jun 7, 2015 | Eleições, Notícias | 0 Comentários

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Matéria adaptada do El País e mídias livres

O México passa por uma prova neste domingo. As eleições intermédias servirão de termômetro do descontentamento social. Não é só o presidente, Enrique Peña Nieto, que terá de passar pela revalidação mais dura de seu mandato. Também os partidos de oposição e os candidatos independentes testarão sua verdadeira força. As pesquisas apontam para uma vitória moderada do PRI, com maioria simples, e uma volta do PAN (direita) à liderança da oposição. À esquerda, o PRD deve ficar à frente de seu novo rival, Morena, a legenda criada por Andrés Manuel López Obrador, ex-candidato à presidência. Nas eleições serão escolhidos nove governadores e os ocupantes da Câmara dos Deputados, das 16 Câmaras estaduais e 1.009 prefeituras. As principais chaves são:
A maioria. É a grande prova. Dela depende que Peña Nieto supere ou não a revalidação. Mas não é fácil consegui-la. Nenhuma pesquisa dá ao PRI (agora com 212 cadeiras) a maioria absoluta na Câmara dos Deputados (500 cadeiras). Com uma percentagem de voto prevista em torno de 30%, só pode alcançá-la, como nesta legislatura, com o apoio de seus aliados, o Partido Verde e Nova Aliança. A legenda ecologista, impulsionada por uma campanha polêmica em que rompeu todas as normas eleitorais possíveis, aspira a superar seu resultado de 2012 (29 deputados). Ainda assim, a chave ficaria nas mãos do minúsculo Nova Aliança, uma legenda de origem corporativa, vinculada ao todo-poderoso sindicato de professores. Em 2012 obteve 10 cadeiras com 2,3% dos votos. A reforma eleitoral elevou para 3% a porcentagem necessária para ter representação parlamentar (cláusula de barreira). Se ficasse por debaixo, a maioria absoluta em torno do PRI não seria possível. O Congresso se abriria ao jogo de pactos. Uma especialidade de Peña Nieto.

A esquerda. Neste campo se trava a batalha mais acirrada. O PRD, a força hegemônica da esquerda, concorre com um rival que nunca enfrentou nas urnas. É o Movimento de Regeneração Nacional (Morena), fundado por Andrés Manuel López Obrador, duas vezes candidato à presidência pelo PRD. Embora ele não concorra diretamente, seu carisma representa um adversário temível. As pesquisas dão a vitória ao PRD, com 12% a 14% dos votos. E Morena, em sua estreia, ficaria na quarta ou quinta posição, em função do resultado dos Verdes. A ruptura, prejudicial para ambas as legendas, deixou em segundo plano um avanço que os especialistas destacam. A soma de todas as forças da esquerda, incluídos os pequenos Partido dos Trabalhadores e Movimento Cidadão, pode impulsionar um fortalecimento deste setor eleitoral (em torno de 30%). Um resultado que seria decisivo para chegar com bom fôlego às presidenciais, contanto que tenham um candidato comum.

A direita. Os estrategistas do PAN perseguem um único objetivo em território federal: superar os humilhantes 25% obtidos nas presidenciais de 2012 e que o fizeram ficar como terceira força do México. Não há consenso nas pesquisas quanto a esse ponto. Mas a legenda tem um prêmio assegurado. A divisão da esquerda dá ao partido o segundo lugar em todas as pesquisas. Essa ascensão será usada para legitimar a gestão de seu atual presidente, Gustavo Madero, sobrinho neto do mítico revolucionário.

Os independentes. São a principal novidade. A reforma eleitoral abriu as portas para candidatos livres das engrenagens dos grandes partidos. Em poucos meses, o panorama se povoou de um variado elenco de personalidades. Entre elas se destaca Jaime Rodríguez Calderón, El Bronco. Ex-militante do PRI, sobrevivente de dois atentados do narcotráfico, seu discurso populista e seu faro para as redes sociais permitiram a ele disparar na corrida ao governo de Nuevo León, o segundo estado mais rico do México. Algumas pesquisas o apontam como vencedor frente à candidata do PRI, outras o colocam em segundo lugar. Em qualquer caso, El Bronco já abriu a brecha. Os partidos tradicionais sabem, graças a ele, que as candidaturas independentes podem ser o futuro.

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Queima de cabines eleitorais em protesto no estado de Chiapas

 


Cédulas eleitorais foram vandalizadas em diversas regiões mexicanas.

Cédulas eleitorais foram vandalizadas em diversas regiões mexicanas.

A abstenção. É o refúgio dos descontentes. Um espaço que aglutina no âmbito federal entre 45% e 50% do eleitorado, e para onde irá grande parte da raiva despertada pela tragédia de Iguala (Ayotzinapa) – aqui um texto que aglutina e contextualiza o episódio e seus desdobramentos – e pelos escândalos governamentais. Representa um terreno pouco explorado eleitoralmente, mas que, devido a sua magnitude, pode estalar novas convulsões sociais. Hoje, em pleno dia de eleição, vizinhos, donas de casa e trabalhadores de Tixtla, Chiapas, e diversas outras regiões mexicanas, se organizaram de forma espontânea e expressaram seu descontentamento. Dentre as palavras de ordem, piquetes e queima de cabines eleitorais, ficou um sentimento generalizado de insatisfação contra uma eleição considerada ilegítima. Segundo os discursos proferidos, essas eleições visariam apenas levar ao poder pessoas ligadas ao crime organizado, uma classe política insensível às tragédias vivenciadas pela população, e que esses mesmos políticos seriam incapazes de resolver os problemas das pessoas. Felizmente, apesar da forte presença militar em diversas regiões do México, não foram registrados episódios de conflito, ou violência de Estado contra a população.

 

ATUALIZAÇÃO: Segundo meios de comunicação alternativos, como World Riots 24h e Desinformémonos, houve repressão brutal das forças armadas mexicanas contra protestos no fim das jornadas eleitorais em diversas regiões do país:

Oaxaca: 440 incidentes, 92 presos, feridos, desaparecidos

Com 283 cabines eleitorais queimadas, 26 roubadas, 75 suspensas e 56 não instaladas, além de 92 presos, terminou o dia das eleições no domingo. O governo do estado reconheceu o número de incidentes que levaram a suspensão definitiva da votação, seja pelas cabines incendiadas, por violência, roubo ou destruição de documentos ou de material eleitoral, o que representa cerca de 8,3 % de todos os locais de votação.

Em Tuxtepec, parentes da professora Sandra Herrera Castro Dianelle, líder magisterial, denunciaram o seu desaparecimento forçado por elementos da Secretaria da Defesa Nacional (SEDENA), no entanto, ela não tem sido reportada nas listas oficiais de líderes e representantes setoriais presos publicadas até o momento.

 

Guerrero: 14 mortos

Em Xolapa, próximo a Acapulco, facções de milícias formadas para combater os cartéis do narcotráfico entraram em conflito, deixando 13 vítimas fatais.

Em Tlapa, Antonio Vivar, recém-formado na UPN (Universidade Politécnica Nacional), teria sido assassinado devido ao uso de munição letal pela polícia na repressão aos protestos.

 

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