A nova maneira que a polícia vigia você: calculando seu “índice de risco”

jan 27, 2016 | Artigos e Publicações, Notícias | 2 Comentários

Enquanto policiais corriam para atender ao chamado de um homem ameaçando sua ex namorada, o operador remotamente consultava um software que pontuava o potencial de violência do suspeito, da mesma forma que um banco faria uma análise de crédito.

O programa varreu bilhões de pontos de dados, incluindo boletins de ocorrência, registros de propriedade, bancos de dados comerciais, buscas na Deep Web e as postagens do suspeito em mídias sociais. Então calculou seu nível de ameaça como o mais alto do sistema de pontuação em três cores: um alerta vermelho vivo.

O homem demonstrava apreço por armas de fogo e associação a gangues, então por precaução um mediador foi chamado. O suspeito se rendeu, e a polícia declarou que a inteligência os ajudou a fazer a ligação certa – ocorreu que ele realmente tinha uma arma.

Assim como se desenrolou no debate nacional sobre vigilância em massa pela National Security Agency (NSA – Agência Nacional de Segurança), uma tecnologia de nova geração como o software Beware usado em Fresno deu às forças policiais locais um poder sem precedentes de bisbilhotar a vida dos cidadãos.

Os oficiais da polícia dizem que essas ferramentas podem fornecer informações cruciais para ajudar a descobrir terroristas ou frustrar tiroteios em massa, garantir a segurança de oficiais e do público, encontrar suspeitos e solucionar casos abertos. Eles afirmam que os ataques ocorridos no ano passado em Paris e São Bernardino, na Califórnia, apenas reforçaram a necessidade dessas medidas.

Mas esses sistemas poderosos também se tornaram pontos de conflito para libertários e ativistas, os quais dizem que esses sistemas representam uma invasão problemática de privacidade, foram implantados com pouco alarde ao público e tem potencial para erros e abusos. Alguns dizem que são necessárias leis para proteger o público.

Em muitos aspectos, as pessoas estiveram inconscientes de que as polícias em torno deles estão  fazendo varredura de informações, o que espalhou a controvérsia. Aviões equipados com câmeras filmavam os protestos e agitação em Baltimore e Ferguson. Por anos, dezenas de departamentos usaram dispositivos que conseguem extrair todos os dados de celular em uma área, sem mandados judiciais. As autoridades do Estado de Oregon estão enfrentando um inquérito depois de usar softwares de monitoramento de redes sociais para monitorar as hashtags Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em português).

“Isso é algo que vem crescendo desde o 11 de Setembro”, diz Jennifer Lynch, uma advogada do Electronic Frontier Foundation. “O primeiro financiamento foi para que os militares desenvolvessem essa tecnologia, e agora ela retorna como aplicação das leis domésticas. É a combinação perfeita entre tecnologias baratas e fáceis de usar e dinheiro dos governos estaduais e federal para adquiri-las.”

Alguns departamentos discutirão como – ou eventualmente se – usarão essas ferramentas, mas a polícia de Fresno ofereceu um raro lampejo para o interior de um centro de operações de $600.000 (aproximadamente R$2.400.00,00), até mesmo enquanto discussões se desenrolavam acerca desta tecnologia.

Um arsenal de ferramentas de alta tecnologia

O Centro de Crimes em Tempo Real de Fresno é o tipo de instalação que se tornou o modelo para o policiamento tecnológico em alcance nacional. Centros similares foram abertos em Nova York, Houston e Seattle na última década.

A sala de controle futurista de Fresno, que opera 24 horas por dia, está no centro de sua sede e agrupa um conjunto de tecnologias que permite ao departamento ver, analisar e respoder a incidentes conforme eles aparecem na cidade de mais de 500 mil habitantes no Vale de São Joaquim.

Cidade de Fresno

Cidade de Fresno

Em uma tarde recente de segunda-feira, o centro estava num pico de atividade. O rádio da polícia crepitava nos alto falantes – “sujeito armado com haste de aço” – enquanto cinco operadores sentavam atrás de monitores discando informações em riqueza para auxiliar as unidades a responderem os mais de 1200 chamados que o departamento recebe a cada dia.

Em 57 monitores que cobrem as paredes do centro, operadores aproximavam e afastavam imagens num arranjo de mais ou menos 200 câmeras policiais empoleiradas pela cidade. Eles podiam acessar outras 800 fontes das câmeras de escolas e de trânsito, e esperam em breve adicionar ainda 400 transmissões de câmeras usadas em corpos de oficiais além das milhares instaladas em pontos comerciais que tem sistemas de vigilância.

As câmeras eram apenas uma ferramenta de prontidão. Oficiais podiam puxar uma rede de dados que tem registros de mais de 2 bilhões de placas de carro e localizações por todo o país. Se armas de fogo fossem disparadas, um sistema chamado ShotSpotter poderia triangular sua localização usando microfones conectados pela cidade. Outro programa, chamado Media Sonar, vasculhava redes sociais procurando por atividades ilícitas. A polícia o usou para monitorar indivíduos, ameaças a escolas e hashtags relacionadas a gangues.

A polícia de Fresno alega que a habilidade de acessar toda essa informação em tempo real é crucial na resolução de crimes.

Eles recentemente usaram as câmeras para rastrear um suspeito de roubo quando este fugiu e pulou em um canal para se esconder. Ele foi rapidamente detido.

O banco de dados de placas de veículos foi instrumental na resolução de um caso de assassinato em setembro, no qual a polícia tinha uma descrição do veículo do suspeito e três números da placa.

Mas talvez a mais controversa e reveladora tecnologia é o o software de pontuação de ameaças Beware. Fresno é um dos primeiros locais na nação a testar o programa.

Quando oficiais respondem aos chamados, Beware automaticamente varre o endereço. As buscas retornam os nomes dos moradores e os comparam a um leque de dados públicos disponíveis para gerar o nível de ameaça de cada pessoa ou endereço classificado em cores: verde, amarelo ou vermelho.

O método exato pelo qual o Beware calcula os níveis de ameaça é algo que seus criadores, a Intrado, consideram um segredo industrial, então é incerto qual o peso dado a delitos, crimes ou comentários ameaçadores no Facebook. No entanto, o programa alerta para problemas e provê um relatório ao usuário.

No material promocional, a Intrado declara que o software Beware poderia revelar que o residente de um endereço em particular é um veterano de guerra sofrendo distúrbio de stress pós-traumático, teve condenações por assalto e postou mensagens preocupantes sobre sua experiência de batalha em redes sociais. O “big data” que transformou a publicidade e outras indústrias chegou agora à aplicação da lei.

Chefe de Polícia Jerry Dyer

Chefe de Polícia Jerry Dyer

O chefe de polícia de Fresno, Jerry Dyer, afirma que oficiais estão constantemente trabalhando com dados escassos ou mesmo imprecisos quando respondem a chamados, então o Beware e o Centro de Crimes em Tempo Real dão a eles uma ideia do que pode estar atrás da próxima porta.

“É esperado que nossos oficiais saibam o desconhecido e o invisível”, Dyer afirma. “Eles estão tomando decisões em frações de segundo baseados em informações limitadas. Quanto mais você puder fornecer em termos de inteligência e vídeo, com mais segurança você pode responder aos chamados.”

Mas alguns em Fresno dizem que o poder e a simples concentração de vigilância no Centro de Crimes em Tempo Real é problemático. As preocupações foram levantadas em outros lugares também – no ano passado, os oficiais da cidade de Oakland desistiram dos planos de criar um centro como esse após protestos dos moradores, citando preocupações com privacidade.

Rob Navarro, um advogado de direitos civis em Fresno, disse que ele está particularmente preocupado com o Beware. Para ele, terceirizar para um software as decisões acerca das ameaças que representa um indivíduo é um problema esperando para acontecer.

Navarro relata que o fato de que apenas a Intrado – nem a polícia e nem o público – sabe como o Beware computa sua pontuação é desconcertante. Ele também se preocupa que o sistema possa elevar o nível de ameaça de um indivíduo por engano ao interpretar incorretamente atividades inócuas em redes sociais, como criticar a polícia, e desencadear uma resposta mais rígida dos policiais.

“É uma técnica muito crua, muito rústica”, expõe Navarro sobre o sistema de classificação em cores do Beware. “Um chamado policial é algo que pode ser muito perigoso para um cidadão.”

Dyer alega que essas preocupações são desproporcionais, dizendo que as pontuações não desencadeiam uma resposta em particular da polícia. Segundo ele, operadores usam os níveis como guias para investigar mais a fundo os antecedentes de um indivíduo, procurando por informação que possa ser relevante para um oficial em ação. Ele afirma que os oficiais em campo nunca veem esses pontos.

Ainda assim, Navarro não é o único preocupado.

O Conselho da Cidade de Fresno abriu uma audiência sobre o Beware em novembro após constituintes terem apresentado seus temores.  Em dado momento um membro do conselho fez referência a uma reportagem local na imprensa em que o nível de ameaça de uma mulher tinha sido elevado porque ela estava twitando sobre um jogo de cartas chamado “Rage” (raiva, em português), que poderia ser uma palavra chave na avaliação de redes sociais do programa.

O membro do Conselho Clinton J. Olivier, um republicano de orientação libertária, disse que o Beware era como algo saído de um livro de ficção científica distópico e fez a Dyer uma simples pergunta: “você poderia fazer minha avaliação de risco agora?”

Dyer concordou. Os resultados classificaram Olivier como verde, mas a sua residência apareceu como amarela, possivelmente em razão de alguém que tenha morado anteriormente nesse endereço, um oficial destacou.

“Mesmo que eu não seja o cara amarelo, vocês policiais vão tratar quem quer que seja que saia daquela casa de cuecas como o cara amarelo”, disse Olivier. “Isso não parece justo pra mim.”

Ele adicionou, depois: “[Beware] falhou justo com um membro do conselho como exemplo.”

Um representante da Intrado respondeu a um pedido de entrevista em busca de mais informações sobre o funcionamento do Beware mandando uma curta declaração. Lia-se: “Beware trabalha para fornecer [aos policiais] informações comerciais públicas que possam ser relevantes para a situação e podem dar a eles um maior nível de consciência.”

Chamados para “um debate mais profundo”

Discussões similares sobre a vigilância policial tem sido realizados pelos EUA, conforme novas tecnologias se proliferaram e o uso de força na aplicação da lei tomou maiores proporções.

O número de departamentos locais de polícia que empregam algum tipo de vigilância tecnológica aumentaram de 20% em 1997 para mais de 90% em 2013, de acordo com os últimas informações do Bureau of Justice Statistics. As formas mais comuns de vigilância são câmeras e leitores automáticos de placas de veículos, mas o uso de leitores biométricos de mão, softwares de monitoramento de redes sociais, dispositivos que coletam dados de telefones celulares e drones está aumentando.

Em âmbito local, o American Civil Liberties Union (União Americana para os Direitos Civis, em tradução livre) relata que a polícia no Distrito, Baltimore, e Montgomery e Fairfax tem coletores de dados de celulares, chamados de simuladores de células locais ou StingRays. A polícia do Distrito Central também está usando ShotSpotter e leitores de placas de veículos.

A vigilância gera vasta quantidade de dados, que estão sendo agrupados em bancos de dados locais, regionais e nacionais de forma crescente. O maior projeto desse tipo é o Next Generation Identification (Identificação da Próxima Geração, tradução livre) do FBI, que está criando uma arca de impressões digitais, leituras de íris, dados de softwares de reconhecimento facial e outras fontes que auxiliam as repartições locais na identificação de suspeitos.

Os cumpridores da lei alegam que estas ferramentas os permitem fazer mais com menos, e creditam à tecnologia a resolução de muitos casos. A polícia do Estado da Virgínia encontrou o assassino de uma equipe de jornalismo de TV, que ocorreu durante transmissão ao vivo no ano passado, após a placa de seu carro ser identificada.

Simuladores de célula local, que mimetizam uma torre de celular e escavam os dados em telefones celulares em área, foram úteis na localização de sequestradores, fugitivos e suicidas, disseram os oficiais.

Mas esses benefícios muitas vezes vem com um custo à privacidade. Aplicadores da lei usaram simuladores de localização por anos sem a obtenção de mandados judiciais. Mas atendendo às críticas do ACLU e outros grupos, o Departamento de Justiça anunciou em setembro último que iria exigir de todas as agências federais que obtivessem mandados de busca.

O fato que a discussão pública sobre tecnologias de vigilância está ocorrendo após estes terem entrado em uso é um retrocesso, afirma Matt Cagle, um advogado para a ACLU da Northern California.

“Nós achamos que seja lá quando essas tecnologias de vigilância estejam em debate é preciso que haja um debate significativo”, disse Cagle. “Existe a necessidade de salva-guardas e monitoramento para esses programas”

Depois de uma audiência conflituosa diante do Conselho da Cidade de Fresno sobre o Beware, Dyer disse que ele agora quer fazer mudanças para se dirigir às preocupações dos moradores. O chefe de polícia disse que ele está trabalhando com Intrado para desligar o sistema de classificação e possivelmente a monitoração das mídias sociais.

Existe uma questão de balanceamento, afirmou Dyer.

Artigo Original

2 Comentários

  1. Marisa

    ESTAMOS SENDO ESCRAVIZADOS, SATÉLITE TERRORISMO

    Estamos sendo vigiados através de nossos olhos e pensamentos, essa tecnologia existe há sessenta anos e as autoridades fingem que não existe.
    O número de vítimas é crescente em todo o mundo, ninguém está imune de se tornar uma vítima.

    Responder
  2. Marisa

    Vigilância em tempo real dos pensamentos e tortura eletrônica no Brasil

    Quadrilhas regionais usam dispositivo de comunicação privada através da interface cérebro computador para torturar pessoas.
    O equipamento permite o envio de sons da fala e ruído p o interior do crânio humano. O processo é o mesmo processo da telefonia celular só que o receptor é o cérebro humano que não tem firewall e portanto não pode fechar a voz. Ele oferece um meio ideal para o roubo de informações e invasão completa de privacidade e tortura mental já que todos os pensamentos podem ser lidos em seguida senhas números e PIN e segredos pessoais ñ podem ser guardados momentos íntimo estão sujeitos a todos os tipos de comentários perniciosos e observações provas podem ser recolhidas para chantagem com enorme facilidade todos os erros ou lapsos morais de seu passado são objeto de uma revisão usam barulho p atormentar a vítima além de privação do sono e intensa tortura física e mental num intuito de induzir ao suicídio e violência tb conduzem a vítima à emboscadas degradantes envolvendo agregados e colaboradores do bando.
    A mídia mundial encoberta esse tipo de crime pessoas estão sendo torturadas à mais de trinta anos sem terem o direito de defesa. O governo tem a responsabilidade indiscutível de iniciar uma investigação imediata sobre esses criminosos que abusam do poder através de uma arma de energia dirigida ao cérebro humano. Com o surgimento de uma nova tecnologia que permite a fusão do cérebro humano à onipresença dos computadores à antenas de radiofrequência e satélite usada largamente contra a população mundial por assassinos torturadores e mutiladores de seres humanos inocentes oque sugerem que as vítimas façam?

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