[Opinião Pirata] A intolerância faz 49 vítimas fatais e cerca de 53 feridos em Orlando

jun 14, 2016 | Notícias | 1 Comentário

Opinativo: Samylla Sales, Alan Passos, Re Spanic e  Camila Holz

Neste domingo, a comunidade LGBT amanheceu mais triste. Não porque não aconteçam ataques motivados por homofobia em outros domingos ou não estejamos cientes da intolerância e homofobia arraigados na nossa sociedade, mas porque esse ódio tomou uma forma atroz e, de uma só vez, tirou a vida de 49 pessoas e deixou outras 53 feridas em Orlando, nos Estados Unidos. Como sempre, a mídia transformou esse evento em um circo: o atirador ganhou nome, foto, família… foram buscados depoimentos sobre ele entre pessoas conhecidas, expondo os motivos que supostamente o levaram a cometer tal ato brutal. Buscaram tanto que encontraram até um jeito de criminalizar o Islamismo pelo ocorrido. Para a mídia trabalhando nesse tom, a origem muçulmana do atirador é prova suficiente para criminalizar todo um grupo de pessoas. E assim vamos alimentando mais ódio e desviando a atenção de um real entendimento sobre a as práticas violentas fomentadas pela homofobia.

O discurso de ódio que nutre massacres como o ocorrido em Orlando não é disseminado apenas nos Estados Unidos. No Brasil, ele continua mais vivo do que nunca e coloca nosso país na terrível posição de ser um dos que mais assassinam pessoas LGBT no mundo! Embora não se tenha um massacre que extermine 49 pessoas ao mesmo tempo, como no caso ocorrido em Orlando, a intolerância brasileira dá o seu “jeitinho” não só de matar, como também de ficar longe das capas de jornais. De acordo com o Huffpost Brasil, ocorre uma morte motivada pela homofobia no Brasil a cada 28 horas, e, apesar dos números, essas mortes frequentemente passam disfarçadas como tendo relação com a “guerra do tráfico” ou se dão através de agentes do Estado (como os próprios policiais). Apesar de não termos registros de um massacre com tantas vítimas como o caso em questão aqui, não é incomum nos depararmos com notícias como a de duas travestis que foram encontradas mortas e parcialmente queimadas (ver matéria). Para tais algozes silenciosos, basta aproveitar-se da população mais frágil e marginalizada no país, pois suas mortes não incomodam a pátria mãe gentil.

No Brasil, os números da barbárie homofóbica, lesbofóbica e transfóbica mostram vítimas fatais com frequência; são quase 300 assassinatos por ano. O chamado Grupo Gay da Bahia lança periodicamente vários dados atualizados sobre crimes praticados contra a comunidade LGBT, não apenas por lá mas também nos demais estados brasileiros. Vale ainda ressaltar que os alarmantes números de violência só aumentam com o passar do tempo e que projetos de lei para fomentar a proteção da comunidade são cada vez mais engavetados, principalmente por conta da expansão da bancada evangélica nos espaços parlamentares, impondo a ideologia de um grupo de pessoas como sendo o único norte a ser seguido por toda a população brasileira. Entendemos essa imposição de valores e morais de um grupo específico (que segue determinações ideológicas particulares) como um atentado à diversidade e ao direito de plenitude humana que defende o PIRATAS.

Mesmo diante da alarmante e crescente quantidade de vítimas da intolerância, e da necessidade imediata dos projetos de leis que criminalizam a homofobia, a bancada evangélica age impedindo que avancem projetos incentivando o debate sobre opressão relacionada a gênero nas escolas. Esse debate, que conservadores tanto se descabelam para banir e impedir, objetiva trazer para a juventude debates pautados em conhecimentos especializados de modo a promover esclarecimentos e também a redução do preconceito. Esse debate informado que procura esclarecer que gênero não diz respeito apenas à homossexualidade ou ao sexo, mas também à identidade social e sua construção.  Assim, quando a bancada evangélica e seus aliados conservadores barram o avanço da discussão de gênero nas escolas, ela não age somente impondo sua visão de mundo ao restante da população brasileira não-evangélica e não-conservadora, mas age também impedindo que se construa um ambiente progressivamente menos violento e de acolhimento da diversidade humana na sociedade brasileira como um todo.

Precisamos incentivar o debate sobre as variadas opressões, reconhecer e celebrar as diferenças, pois somente assim poderemos buscar uma sociedade mais justa e verdadeiramente democrática – removendo todos os discurso de ódio que impossibilitam o respeito e a aceitação. Enquanto isso não acontecer, seguiremos chorando com irmãs e irmãos LGBT, que perderam pessoas queridas hoje (e perdem todos os dias). Esse momento pelo qual estamos passando é delicado, direitos civis estão diminuindo de forma cada vez mais intolerável devido à ação do Congresso, assim como de câmaras legislativas estaduais e municipais em todo o país. E um pensamento ultraconservador ganha força dentro e fora do poder na esteira da atual crise. Existem ameaças reais à laicidade do Estado e a algumas liberdades democráticas. Estamos caminhando numa direção nada promissora para o desenvolvimento humano. A mudança de posicionamentos educacionais e culturais sobre o entendimento, a aceitação e a tolerância da diversidade deve ser prioridade em cada projeto político para busca de uma sociedade mais justa.

1 Comentário

  1. HeDC.MarceloDC.Desenvolvedor

    Cabe salientar que questões LGBTs, gênero e mulheres são de longe quem mais sofrem preconceitos, inclusive não apenas na pessoa em si mas em suas características que são absolutamente legítimas, ou seja, defensáveis plenamente.

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