PIRATAS europeus indicam Edward Snowden e Chelsea Manning para Nobel da Paz 2014

fev 5, 2014 | Ativismo | 0 Comentários

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Edward Snowden e Chelsea Manning foram indicados para o Prêmio Nobel da Paz 2014 por meio de uma indicação conjunta feita por parlamentares piratas da Islândia e por eurodeputados piratas.”Manning nos deu uma visão da realidade brutal da guerra e da hipocrisia do poder político. Snowden nos revelou como estados vigiam e controlam nossos fluxos de informação. Juntando as duas coisas, temos uma imagem bem forte. Por isso que indicamos os dois juntos“, diz Amelia Andersdotter, eurodeputada pirata.

As revelações de Edward Snowden levaram a uma investigação em larga escala sobre vigilância em massa pelo Parlamento Europeu, além de outras coisas. Premiá-lo com um Nobel da Paz seria um jeito adicional de dizer que a sociedade democrática apoia suas ações. Em vez de entregar o prêmio para os detentores do poder, o Comitê Nobel deveria entregá-lo para aqueles que expõem o poder“, diz Chrstian Engström, outro eurodeputado pirata.

Segue o texto completo da indicação:

Caro Comitê de Indicação para o prêmio Nobel da Paz,

Gostaríamos de indicar dois excelentes candidatos para o prêmio Nobel da Paz de 2014. Acreditamos firmemente que Chelsea Manning e Edward Snowden alcançaram e excederam todas qualificações exigidas para serem considerados dignos de ganhar o prêmio Nobel da Paz.

Os indicados são ambos denunciantes (whistleblowers) que têm inspirado mudanças e encorajado o debate público e as mudanças políticas que contribuíram para um mundo mais estável e pacífico.

Chelsea Elizabeth Manning (nascida Bradley Edward Manning, em 17 de dezembro de 1987) é soldado do exército dos EUA que foi sentenciada a 35 anos dereclusão em prisão militar em 2013 por liberar centenas de milhares de documentos para o site Wikileaks. Os documentos vazados apontam para um longo histórico de corrupção, sérios crimes de guerra e uma falta de respeito pela soberania de outras nações democráticas por parte do governo dos EUA em negócios internacionais.

Essas revelações impulsionaram movimentos democráticos ao redor do mundo, incluindo uma revolução democrática na Tunísia. De acordo com análises jornalísticas, acadêmicas e de intelectuais, suas ações ajudaram a motivar os movimentos democráticos da Primavera Árabe, lançaram luz sobre a influência secreta que corporações exerciam sobre políticas domésticas e estrangeiras de nações europeias, e ainda contribuíram para o acordo firmado pelo governo Obama para que fossem retiradas as tropas dos EUA do Iraque ocupado.

As informações profundas que foram reveladas por essa corajosa denunciante ajudaram a promover o diálogo público sobre a legitimidade, adequação e relevância das intervenções militares executadas pelas tropas dos EUA no Iraque e no Afeganistão. O vazamento desses documentos levaram diretamente a exigências pela retirada completa das forças militares nesses países, assim como por comitês de investigações sobre o tratamento de prisioneiros no Campo de Detenção da Baía de Guantánamo.

Os documentos e informações nunca deveriam ter sido mantidos longe do olhar público, e o próprio fato de que jornalistas nas zonas de conflito diminuíam ou omitiam fatos ocorridos em campo aumentava a corrupção do fluxo de informações. As revelações – incluindo documentação em vídeo de um incidente no qual soldados norte-americanos dispararam contra jornalistas da Reuters no Iraque – têm impulsionado discussões em nível global sobre as investidas militares intercontinentais dos EUA, mortes de civis na guerra e regras de engajamento. Cidadãos ao redor do mundo possuem uma grande dívida com a denunciante do Wikileaks por lançar luz sobre esses problemas.

Edward Joseph Snowden (nascido em 21 de junho de 1983) é um especialista em computação, ex-empregado da Agência Central de Inteligência (CIA) e ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional (NSA), que liberou documentos confidenciais da NSA para diversos canais de mídia, dando início aos vazamentos da NSA, os quais revelam detalhes operacionais de um aparato de vigilância global controlado pela NSA e outros membros da Aliança dos Cinco Olhos, em conjunto com diversos parceiros e corporações internacionais.

Correndo um risco enorme em termos de seu bem-estar pessoal e de seu futuro, ele tem revelado o terrível alcance da rede mundial de espionagem das agências espiãs anglo-americanas. Liberando documentos sobre as atividades de agências clandestinas, ele não apenas revelou a escala global da vigilância em massa a qual coloca em perigo uma série de liberdades civis (elementos fundamentais de nossas liberdades como liberdade de expressão e o direito à privacidade), mas também ofereceu às pessoas do mundo inteiro as ferramentas necessárias para combater o cada vez mais invasivo caminho para a vigilância em massa. Violações flagrantes dos direitos humanos mais básicos têm sido institucionalizadas pelas agências do governo dos EUA, enquanto a privacidade tem sido incluída em TODAS as cartas de princípios e declarações internacionais de direitos humanos.

O debate sobre a vigilância em massa não pode ocorrer sem a revelação das estruturas e métodos básicos dos correspondentes programas secretos de espionagem. Cidadãos, pesquisadores e políticos precisam ter uma noção desses métodos para que sejam capazes de pesar as consequências e o possível efeito prejudicial para a sociedade global. A vigilância em massa corrompe os fundamentos das democracias modernas, tornando leis locais de proteção à privacidade desprovidas de sentido no âmbito global. Snowden nos mostrou que jornalistas não podem mais proteger suas fontes, advogados não podem proteger seus clientes e médicos não podem proteger as informações de seus pacientes. O conceito de privacidade foi redefinido para exposição completa sem nenhuma privacidade. Suas ações mostraram ao resto do mundo e aos legisladores que  ação global conjunta precisa acontecer para que os direitos constitucionais à privacidade sejam restaurados para os cidadãos, o que é algo completamente essencial para democracias saudáveis.

Ao vazar documentos para jornalistas investigativos de mídias independentes, Snowden conseguiu considerar cuidadosamente o equilíbrio entre o interesse público e a segurança nacional. Revisando os documentos fontes, ele e seus apoiadores evitaram vazar informações altamente sensíveis as quais poderiam ter colocado em perigo as operações em curso e as pessoas envolvidas.

Algumas pessoas podem argumentar que Snowden agiu em desacordo com a lei, todavia, a vigilância em massa é algo ilegítimo pois acaba com a soberania do povo sobre o aparato estatal. É bem sabido que, em tempos de mentiras generalizadas, dizer a verdade se torna um ato revolucionário. Quando o Estado age fora das leis, cabe aos cidadãos denunciar essas ilegalidades para o bem maior de seu povo e de seus princípios de sustentabilidade do futuro.

Snowden e Manning agiram corajosamente e, como resultado, temos um mundo mais estável e pacífico e uma probabilidade bem maior de desenvolver e viabilizar modelos verdadeiramente democráticos.

Estamos indicando Manning e Snowden juntos porque a coragem de Manning inspirou Snowden e ambos inspiraram milhares de pessoas ao redor do mundo a falar a verdade para o poder e a exigir transparência e prestação de contas em suas próprias sociedades.

Assinam:

  • Amelia Andersdotter – Partido Pirata da Suécia | Membro do Parlamento Europeu
  • Christian Engström – Partido Pirata da Suécia | Membro do Parlamento Europeu
  • Birgitta Jónsdóttir – Partido Pirata da Islândia | Membro do Parlamento Islandês
  • Jón Þór Ólafsson – Partido Pirata da Islândia | Membro do Parlamento Islandês
  • Helgi Hrafn Gunnarsson – Partido Pirata da Islândia | Membro do Parlamento Islandês

Fontes:  Partido Pirata da Holanda e Falkvinge on Infopolicy

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