O que é Democracia Líquida?

jun 12, 2013 | Artigos e Publicações, Notícias, Videos | 1 Comentário

Introdução

A Democracia Líquida é uma forma de democracia híbrida entre as democracias direta e representativa, com o objetivo de combinar as vantagens de ambas, dando aos cidadãos uma maior possibilidade de participar. Assista ao vídeo:

 

Democracia Interativa usando Democracia Líquida

Traduzido de:  Interactive Democracy using Liquid Democracy

Traduzido por: Observatório Pirata

por Andreas Nitsche

 

Democracia Líquida

Comecemos com um antigo sonho mencionado por Alexander Hamilton em 1788: “Foi observado por um cavalheiro honrado que uma democracia pura, se praticável, seria o mais perfeito sistema de governo”. Com esta ideia ele comparou desfavoravelmente a democracia pura (ou direta) à república proposta pela Convenção Constitucional da Filadélfia.

Uma democracia representativa é fundada no princípio de que indivíduos eleitos representam o povo. Geralmente, você elege um representante (indivíduo ou partido) para um mandato fixo – se você mudar de ideia durante o mandato, não pode fazer muito a respeito. Além disso, representantes em geral defendem todo um conjunto de objetivos políticos. Se você não encontrar a sua mistura perfeita, terá de aceitar concessões.

Por outro lado, uma democracia pura (ou direta) pode ser menos eficiente. Acredita-se que seja impraticável em larga escala, e prevenções contra o mando da turba remontam a Platão. Ainda assim muitas pessoas, honradas ou não, sustentam o sonho de uma democracia pura. Novas tecnologias como a Internet poderiam colocar o sonho ao nosso alcance. É claro que este é somente o aspecto técnico. A questão que fica é: serão todas as pessoas capazes de lidar com todas as questões, ou elas deixarão de participar? Ou haverão somente decisões superficiais, do tipo “parece bom – vamos votar por isso”?.

É aí que entra a Democracia Líquida. A ideia básica é: um eleitor pode transferir seu voto a um delegado (tecnicamente uma procuração transitória). O voto pode então ser transferido adiante, construindo assim uma rede de confiança. Todas as delegações podem ser efetuadas, alteradas e revogadas por tópico. Eu voto por mim mesmo em questões de meio ambiente, Anne me representa em política externa e Mike me representa em todas as outras áreas, mas eu posso mudar de ideia a qualquer momento.

Qualquer um pode escolher seu próprio caminho, desde a democracia pura até a democracia representativa. Basicamente, cada um participa naquilo que o interessa, mas em todas as outras áreas repassa seu voto a alguém que age em seu interesse. Claro que eventualmente alguém pode fazer uma má escolha, mas poderá mudar de ideia a qualquer momento.

 

O Projeto LiquidFeedback

O LiquidFeedback é um sistema online para discussão e votação de propostas no contexto de um partido (ou organização), e compreende o processo que vai desde a introdução do primeiro rascunho de uma proposta até a decisão final. Discutir um tema antes da votação aumenta a consciência dos prós e dos contras, oportunidades e riscos, e permite que as pessoas considerem e sugiram alternativas.

Ele combina conceitos de um processo de discussão não moderado e auto-organizado (feedback construtivo e quantificado) e democracia líquida (ou delegada ou por procuração). Seguindo a ideia da democracia interativa, o LiquidFeedback introduz um novo canal de comunicação entre votantes e representantes (neste caso, membros e membros diretores), entrega resultados confiáveis sobre o que os membros querem e o que pode ser usado como informação, sugestão ou diretriz, a depender das necessidades da organização ou da legislação do país.

Este sistema permite que todos os membros participem não somente votando como também desenvolvendo ideias, ao mesmo tempo que auxilia membros diretores a entender o que a maioria realmente quer, para tomar decisões corretas e responsáveis baseadas no “voto popular”.

O Liquidfeedback foi desenvolvido pelo Public Software Group, em Berlim, Alemanha. Está disponível sob licença do Massachusetts Institute of Technology (MIT), similar à licença da cláusula BSD-3 da University of California, em Berkeley, o que torna o software basicamente livre para todos. A motivação original para sua criação, em 2009, era a demanda de um partido político em ascensão em evitar uma representação hierárquica clássica. Os membros diretores do Partido Pirata em Berlim quiseram perpetuar a possibilidade de que qualquer membro participasse tanto no desenvolvimento de ideias quanto nas decisões do partido.

Embora queiramos que todos participam do desenvolvimento de ideias, nós acreditamos que em um primeiro momento muitos rascunhos serão criados por um pequeno grupo ou mesmo individualmente. Este não é um problema, desde que:

– todos possam se informar sobre a iniciativa

– todos possam contribuir com sugestões

– todos possam criar uma iniciativa alternativa

– todos possam votar no final

Todo membro pode começar uma iniciativa. Durante o período de discussão, os proponentes poderão divulgar suas propostas e obter respostas sobre o nível de suporte para a mesma dentro da organização.

Além disso, eles recebem sugestões para desenvolver a iniciativa. Estas sugestões são quantificadas em termos de quanto suporte poderá ser ganho ou perdido caso sejam implementadas. Por razões óbvias, apenas o proponente da iniciativa pode decidir se uma sugestão será ou não implementada. A ideia de como se dará a implementação pode diferir muito. Portanto, depois que um novo esboço é publicado os membros podem informar aos proponentes se a implementação corresponde àquilo que é tratado na sugestão.

Neste ponto nós queremos que todos trabalhem para um mesmo objetivo e precisem apenas de feedback construtivo para a iniciativa. Nós não esperamos melhorias de pessoas que consideram a ideia básica absurda. Se alguém sente que há algo na proposta de que discorda fundamentalmente, deve propôr uma iniciativa alternativa ou votar “Não” quando chegar a hora da votação.

Também não queremos forçar as pessoas a fazer concessões que talvez não queiram fazer, ou encorajá-los a votar baseadas em posições majoritárias e possibilidades – por exemplo: ninguém que vota em A deve ser encorajado a votar em B só porquê B tem mais chances de ganhar e C é ainda pior. Em vez disso, nós permitimos que os eleitores expressem seus objetivos políticos

Intencionalmente, não implantamos moderação ou negociações reservadas entre os proponentes. Como resultado, podem haver os chamados clones, isto é, iniciativas muito semelhantes mas com diferenças aparentemente insignificantes (que podem ser importantes para alguns eleitores). Clones não devem prejudicar uma ideia básica (e nem apoiá-la, é claro), e é por isso que implementamos um sistema muito avançado de votação baseado noDescartamento Sequencial Schwartz Imune a Clones (CSSD –  Cloneproof Schwartz Sequential Dropping, em inglês), também conhecido como o Método de Schulze (Schulze method).

Finalmente, nos apoiamos no conceito de rastreabilidade para assegurar a integridade do sistema. É o que chamamos de transparência, no sentido político da palavra.

 

Perspectivas e o que é necessário para o sucesso

Nós esperamos que a Democracia Líquida seja introduzida na forma de sugestões para o processo decisório dos representantes. Mesmo isso pode ter um grande impacto, se os resultados forem reconhecidos como confiáveis e indisputáveis.

Mesmo que os resultados não tenham efeito legal e signifiquem apenas uma indicação para um representante (ou membros da diretoria), não deve haver dúvida que expressam a vontade dos participantes. Para cumprir esta exigência devem haver regras incontestáveis sobre quando e como uma decisão é feita.

Além disso, se os resultados devem expressar a opinião de um determinado grupo, deve haver um acordo entre seus membros para usar um sistema específico, e cada membro deste grupo (e apenas este) deve ter acesso ao sistema com exatamente uma conta.

Toda experiência que adquirimos nos últimos meses demonstra que as pessoas participam se elas percebem que o sistema faz sentido, e representantes legais ao menos reconhecem o desejo dos participantes, em lugar de discutir com maiorias silenciosas.

1 Comentário

  1. Daniel Serodio

    Muito interessante o artigo, e gostaria de sugerir uma melhoria: o termo licença da cláusula BSD-3 está traduzido errado, o correto seria licença BSD de 3 cláusulas.

    Responder

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