Prisão do Vice-presidente do Facebook e a criptografia do WhatsApp

mar 6, 2016 | Notícias | 0 Comentários

A polícia federal anunciou nesta terça-feira (01/03/2016) a detenção do vice-presidente do Facebook e Instagram para a América Latina, Diego Dzodan, por negar-se a revelar à justiça informações de usuários do WhatsApp, aplicativo de propriedade do grupo. (pelo fato do Whatsapp se negar a fornecer informações solicitadas pela Justiça Brasileira)

“Essas informações foram requeridas para a produção de provas a serem utilizadas em uma investigação de crime organizado e tráfico de drogas, que tramita em sigilo sumário” na justiça do Sergipe, afirmou a PF em um comunicado.

A ordem de prisão preventiva de Dzodan, de nacionalidade argentina, foi expedida por um Juiz da localidade de Lagarto, em Sergipe, “em função do reiterado descumprimento das ordens judiciais, de requerimento de informações contidas na página do site Facebook” e do aplicativo WhatsApp.

O mesmo juiz já havia determinado o pagamento de multas milionárias para o Facebook, como permite os mecanismo estipulados dentro do Marco Civil, já a prisão preventiva se pautou pelo parágrafo segundo da lei 12.850, de 2013, que prevê pena de 3 a 8 anos de prisão a quem “impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”

Depois de ser detido em sua casa em São Paulo, Dzodan foi levado para prestar depoimento na sede da PF, mas o desembargador Ruy Pinheiro concedeu um habeas corpus que revogou a sua prisão.

O WhatsApp alega que a Justiça brasileira pede informações que o aplicativo não tem, pois ele supostamente não teria as mensagens estocadas em nenhum lugar. Mais do que isso, essas informações seriam criptografadas de ponta a ponta, de modo que ninguém pudesse ter acesso às conversas do aplicativo. Mas será que isso é verdade?

 

CRIPTOGRAFIA DO WHATSAPP

Felipe Ventura (com alterações)

Durante a Mobile World Live o presidente-executivo do WhatsApp, Jan Koum, foi indagado sobre o impasse criado com o Governo Brasileiro. Koum foi taxativo: “Nós não vamos ceder e abrir a nossa criptografia para ninguém.”

Esse processo começou em novembro do ano passado, o WhatsApp anunciou que protegeria suas mensagens usando criptografia: isso seria ativado por padrão no Android e chegaria “em breve” ao iOS. Esta poderia ser a maior implementação de criptografia ponta-a-ponta já feita, expandindo-se para 600 milhões de usuários.

Então, esta semana, a Bloomberg publicou uma notícia sobre a Bélgica prender dois suspeitos de participarem de grupos terroristas. O texto termina mencionando o WhatsApp:

Investigadores disseram anteriormente que haviam detido 16 pessoas nos ataques antiterror depois de trabalharem com autoridades dos EUA para monitorar as comunicações dos suspeitos no serviço de mensagens da WhatsApp Inc.

A BBC diz algo semelhante:

Ambos os grupos terroristas teriam se comunicado utilizando o serviço de mensagens WhatsApp, e os investigadores disseram que autoridades norte-americanas lhes deram ajuda no rastreamento das mensagens.

Mas se as mensagens são criptografadas no WhatsApp, como as autoridades dos EUA – provavelmente a NSA e o FBI – conseguiram descobrir os terroristas?

 

Criptografia Ponta a Ponta

A criptografia de ponta a ponta só dá as chaves de segurança para as duas pessoas envolvidas na conversa: em tese, mesmo que o WhatsApp seja pressionado a entregar seus dados, eles simplesmente não teriam como descriptografar as mensagens.

Mas, segundo um teste da Heise em abril, o WhatsApp só usa criptografia nas mensagens enviadas entre dispositivos Android:

“[…] em nossos testes, smartphones Android enviavam exclusivamente mensagens criptografadas de ponta a ponta (E2E) para destinatários capazes de criptografia E2E, e essas mensagens foram criptografadas de acordo com o protocolo TextSecure. Sempre que nós testamos isto com clientes iOS, as mensagens recebidas não eram protegidas dessa forma.”

Além disso, de acordo com o anúncio oficial em novembro, o app para Android não criptografa chats em grupo nem mensagens com fotos ou vídeo. Então mesmo que as mensagens não sejam estocadas, elas ainda podem ser bisbilhotadas por meios dos mecanismos de vigilância e espionagem utilizados pelos Estados Unidos.

Por enquanto, o WhatsApp não avisa se suas mensagens são protegidas (ou não) por criptografia. Moxie Marlinspike, responsável pelo protocolo TextSecure usado no WhatsApp, diz no Reddit que “vamos exibir informações na interface de usuário quando a implementação da criptografia estiver completa”.

 

Metadados

E mesmo que os jihadistas estivessem enviando mensagens criptografadas, os EUA poderiam recorrer aos metadados das conversas – ou seja, quando elas foram enviadas e a partir de qual celular. Como explica o Ars Technica:

“Mesmo que algumas das mensagens tivessem sido protegidas por criptografia, é possível que o FBI ou a NSA tenha recolhido metadados das mensagens no servidor. Esses metadados poderiam ser utilizados para estabelecer as conexões entre os suspeitos e o jihadista ferido, o que teria permitido às agências norte-americanas ou belgas fazer uma vigilância mais direcionada.”

Ou seja, a implementação da criptografia no WhatsApp ainda está em andamento; e mesmo que ela seja expandida, você ainda poderia ser alvo de espionagem.

 

Concorrência

Bem, se você quiser conversar com outras pessoas para planejar algo secreto – seja bom ou ruim – melhor não usar um serviço de chat associado a um número de celular, e cujo dono é o Facebook.

Isto é o que a equipe do Telegram tem a dizer sobre criptografia:”Nós temos suporte a duas camadas de criptografia segura. A criptografia entre cliente e servidor é usada em chats privados e em grupo; bate-papos secretos usam uma camada adicional de criptografia entre um cliente e outro. Todos os dados, independentemente do tipo, são criptografados da mesma forma – seja ele texto, mídia ou arquivos.”

E eis o que o Viber diz:

“Todas as mensagens de texto enviadas pelo Viber nas plataformas compatíveis são criptografadas. Mensagens de mídia, como fotos e vídeos, são criptografadas no Viber para iOS, Viber para Android, Viber para Windows 8 e Viber para Windows Phone 8.”

Claro, há serviços bem mais secretos, criados especificamente para conversas seguras: entre eles, estão o BitTorrent Bleep, CryptoCat, TextSecure e Silent Text. A Electronic Frontier Foundation analisou diversas ferramentas, e os resultados estão aqui.

WhatsApp e Facebook ainda não se pronunciaram sobre o assunto. [Ars Technica e Hacker News]

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