Guia Pirata para Manifestações

dez 4, 2016 | Artigos e Publicações, Ativismo, Notícias, Opinião PIRATA | 1 Comentário

Inspirado no texto “A New York Pirate’s Guide To Resistance“.

“NÃO HÁ MAIS COXINHAS E MORTADELAS

AGORA SOMOS TODOS PAMONHAS

ANÔNIMO

por KaNNoN e gal

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Como vivemos uma época de manifestações para todos os gostos e tipos de pessoas, talvez você tenha vontade de ir a alguma delas. Assim, inspirado no “A New York Pirate’s Guide To Resistance”, este é o “Guia pirata para manifestações”.

 

O QUE VESTIR

Bem, não vamos explicar timtim por timtim porque uma grande parte dos piratas já sabem o que fazer numa manifestação. O objetivo é dar dicas e truques sobre coisas que você já sabe.

Para começar, guias online te dirão que você precisa de alguns apetrechos e uma mochila. A desvantagem de se usar mochila é que a Polícia pode querer revistá-lo em algum momento — é o chamado “flagrante forjado”, uma prática corriqueira da corporação.

Outro ponto a se chamar atenção é que qualquer coisa, por mais inofensiva que pareça, pode ser confiscada e você ser apreendido. Produtos de primeiros socorros, vinagre, sucos, máscaras, livros, jornais e até mesmo produtos de limpeza podem ser apreendidos como artefatos explosivos. A postura das autoridades pode variar de protesto para protesto e também de acordo com a forma como você está vestido — e com a sua cor de pele.

Em protestos convocados pela direita, o dress coding é o mesmo de um picnic no parque ou de uma partida da seleção brasileira assistida em um bar. Há ainda grupos online que vendem “KIT PROTESTO COXINHA”, que inclui camisetas, bonés e até balões.

Boné, camiseta e adesivo do REVOLTADOS ON-LINE: corte italiano nas cores preta, referência aos “camisas negras” da Itália?

 

Super Moro e Pixuleco: não se sabe se o ex-presidente Lula ou o juiz do Paraná ganham alguma porcentagem por uso de imagem na venda de seus bonecos, vendidos por 20 reais pelo Movimento Brasil Livre.

 

Se você acordou se sentindo como o Alexandre Frota e não se sente representado nos atos do Vem Pra Rua pois deseja gritar bem alto um “Fora Temer”, temos no cardápio os protestos da nossa esquerda tradicional também! Nesse caso, você pode vestir desde camisetas de partidos até roupas comuns. Talvez roupas e máscaras pretas façam com que outros manifestantes te entreguem pra polícia, mas não se preocupe: assim como nos atos dos famigerados “coxinhas”, o que importa é manter a ordem e os interesses dos que mandam nas manifestações. Deixe o radicalismo para outro dia, não é pra isso que te chamaram pro evento.

Como nem todo protesto é como um passeio domingo de manhã no manifestódromo da Avenida Paulista, o ideal são roupas leves de cores neutras, calça jeans, tênis ou bota e um lenço ou bandana. Leve um outro conjunto de roupas caso precise se disfarçar de “cidadão de bem” e passar desapercebido por um grupo de policiais antes de chegar no ato (ou mesmo para cair fora dele).

Camisetas e bandeiras do PIRATAS não causam problemas. As pessoas ao lerem “Partido Pirata”, normalmente quando não conhecem, acham engraçado – e quando conhecem, continuam achando engraçado! – Assim podemos evitar o risco de levar porrada em ambos os atos, até porque temos uma grande variedade de cores de camisetas.

 

MÁSCARAS

O uso de máscaras em manifestações pelo Brasil tem uma tradição histórica. Ou tinha. Muitas leis foram aprovadas desde as manifestações 2013 proibindo o uso de máscaras. Às vezes, uma máscara em protesto pode significar no mínimo uma visita à delegacia para registro de identificação. No entanto, máscaras podem te proteger de fotógrafos da Globo ou de “ativistas” do Mídia Ninja/Jornalistas Livres, que curtem filmar e fotografar seu rosto e depois postar tudo no Facebook com marca d’água.

VOCÊ SABIA? Toda vez que você compra uma máscara do Guy Fawkeys produzida por um proletário chinês que ganha 10 centavos por hora, parte da sua grana vai para licença de propriedade intelectual da Warner Brothers, subsidiária da Time Warner, uma dos maiores conglomerados de mídia do mundo.

 

LÁGRIMAS, BORRACHA E BOMBA

Você está no protesto. Esses policiais parecem maus! Os Stormtroopers estão prontos para te dar um gosto da democracia!

Aqui um pouco do que te aguarda:

Bomba de gás lacrimogênio:

As latas de gás são quentes. Você precisará de uma luva resistente ao calor ou algum outro item hilário para rebater de volta sem que você não tenha que tocá-la (cuidado para não acertar outros manifestantes!). Se você for pego dentro de uma nuvem de fumaça, encharque uma bandana ou alguma camiseta com vinagre ou suco de limão e amarre sobre sua boca e nariz. Borrifadores com leite de magnésia diluído em água são ótimos se suas preocupações não forem fundamentalmente estéticas.

Bala de borracha:

Vai doer. Vai doer muito. E pode cegar. E tem cegado. Fotógrafos e jornalistas são as principais vítimas. Use óculos protetores e boa sorte.

Sirene explode ouvido:

Essa novidade foi adquirida pelas forças de repressão brasileiras para a Copa do Mundo e Olimpíadas, e já foi utilizada em algumas ocasiões. Pode danificar permanentemente os ouvidos. Protetores ou fones podem ajudar.

Chaleira:

Técnica alemã chamada de Kettling, a “chaleira” ou “caldeira” envolve na formação de largos cordões de policiais que se movem e empurram a multidão para confiná-la dentro de uma determinada área. Os manifestantes são “amolecidos” com algumas pauladas e impedidos de sair do cerco durante um intervalo de tempo arbitrado pela polícia — e que pode durar horas, sem que se possa ter acesso a alimento, água ou sanitários. A “chaleira” é proibida por leis nacionais e internacionais. Mas quem se importa? Se você perceber que as pessoas ao seu redor estão sendo cercadas aos poucos, faça algo sobre isso antes que seja tarde demais.

 

GRUPOS

É importante frisar que esta é minha opinião sobre tipos de grupos que você poderá encontrar em um protesto. Em qual grupo você estará irá depender do clima que você estiver no dia. Quer relaxar e apenas protestar? Procure grupos que curtem fazer ciranda e entregar flores para a polícia (normalmente gente branca e com dinheiro). Quer estar onde tem ação? Procure pelas bandeiras negras: essa é a sua turma.

Direita CBF – Está vendo a madame que saiu para bater a panela mas levou também a empregada levando o carrinho de bebê? Este é o protesto com pau de selfie. Não menospreze essa gente, Capitão Anarquia! Afinal, o que diabos você foi fazer neste lugar, hein? Manifestações assim costumam ser divulgadas em massa e com antecedência nas rádios e televisões corporativas. Evite o vermelho: agressões injustificadas podem ocorrer se você estiver vestindo alguma roupa desta cor.

Socialistas e Comunistas – Você curte jornal grátis? Se a resposta for sim, é com eles mesmo! Vestem camisas vermelhas e carregam bandeiras com a Foice e o Martelo. Você vai ganhar tantos panfletos e jornais de partidos e sindicatos que isso pode ser um pouco chato. Em geral, podem fazer algum tipo de resistência, mas alguns deles preferem não arrumar problemas com a polícia — “ela também faz parte da classe trabalhadora”, podem te dizer. Ah, mas nem sempre o espírito revolucionário fala mais alto — alguns deles, quando não vão com sua cara, podem te agredir ou expulsar ou ainda mesmo te entregar para a polícia.

Ex-governistas – Você pode sair do governo, mas o governo não sai de você. Gostam de mandar nas manifestações, mais até que a turma de vermelho em geral. Não conseguem não transformar carros de som em palanques de coisas que não têm nada a ver com o ato. Aqui, as chances de ser apunhalado pelas costas pelos “companheiros” e “camaradas” aumenta consideravelmente. Cuidado com os seguranças das centrais sindicais que eles controlam, são uns caras grandes e fortes.

Anarquistas/Black Blocs – Esses porra loucas estão para o que der e vier.  Procure por roupas pretas e por bandeiras negras. No pior dos cenários essas são as únicas pessoas que poderão te proteger quando/se a polícia cair pra dentro. Seja atrasando o avanço da cavalaria, seja na frente dos protestos ou dando retaguarda. Com espírito prioritariamente altruísta, eles protegem o cidadão comum, idosos e crianças, contra a brutalidade policial. Ao menos na maioria das vezes: tem alguns que correm no primeiro sinal de alguma aproximação policial. Pessoalmente, vamos com os anarquistas e black blocs.

É importante ter o dom para identificar os P2, os tais “agentes provocadores”. Eles são ninjas musculosos de 2 metros de altura te incitando a tacar fogo ou quebrar coisas. Não, por favor, não caia nessa.

 

PRISÃO

Sem saída.

E agora?

Depois que aprovaram a LEI ANTITERRORISMO, qualquer coisa pode acontecer. Se estava ruim antes, imagina agora! Você pode ser detido e privado de contato com o resto do mundo, e seus advogados e familiares só terão notícias quando você já estiver dividindo uma cela. Podem te acusar de tudo que quiserem mas a maior parte das acusações será retirada posteriormente.

Você poderá ser enviado diretamente para uma penitenciária. Terá seu cabelo raspado e vestirá um uniforme. A intenção é te humilhar. Você sabia dos riscos. Você sabia que se fosse capturado seu inimigo não iria te tratar numa boa. Certo?

Mas, veja bem: o mais provável é que você seja levado a uma delegacia onde assinará um termo e então o Estado poderá colocar medo nos corações das pessoas ao seu redor. Tenha sempre o número de telefone de advogados ativistas (e evite falar qualquer coisa enquanto algum deles não aparecer na delegacia), diga seu nome completo para as pessoas ao redor quando estiver sendo carregado pela polícia, e evite ir sozinho em protestos — fica mais fácil para as pessoas te ajudarem numa delegacia se alguém por perto te conhecer! Evite bater boca com policiais (eles não gostam de ficar recebendo aula particular de Direito de manifestantes), mantenha a calma e ajude as outras pessoas a te ajudar.

Torça para ser liberado na delegacia, pois não temos dicas para a vida na prisão.

1 Comentário

  1. 01

    Se eles prendem os manifestantes é por algum crime que cometeram, e se foi preso injustamente, é só reclamar com algum representante dos direitos humanos, não? E a mídia internacional, o quê acontece se mandar um e-mail para eles?

    Responder

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