Sala de cinema da AMC chama “agentes federais” para prender um usuário do Google Glass

mar 24, 2014 | Notícias | 2 Comentários

Um leitor do Gadgeteer de longa data entrou em contato comigo através do Google Hangouts para contar que tinha uma história a qual achou que eu estaria interessada em ler. Então ele me encaminhou um longo email com a história de um grande amigo seu. Foi uma história tão surpreendente que eu lhe perguntei se tinha permissão para postá-la aqui no The Gadgeteer. Acabei me comunicando com o autor da história e a postei aqui para que todos leiam.

  • Eu estou usando o Google Glass há 2 meses, e mais ou menos 2 semanas atrás eu recebi uma prescrição para as lentes dos óculos. Portanto, nas últimas duas semanas, eu venho usando o Google Glass o tempo todo. Não tinha nenhuma história para contar a respeito até ontem (18/01/2014).
  • Eu fui à AMC (Shopping Easton, Columbus, Ohio) para assistir a um filme com minha esposa (que não usa Google Glass). Este é o cinema ao qual vamos todas as semanas, então provavelmente era a terceira vez que eu entrei usando Google Glass, e os funcionários da AMC (o picotador de tíquetes na entrada, a garota no estande) já haviam me perguntado sobre os óculos no passado e eu lhes contei sobre como eles são incríveis em cada uma das ocasiões.
  • Como eu não quero os óculos me distraindo durante o filme, eu os desligo (mas, já que minhas lentes de prescrição estão na armação, eu ainda os uso). Depois de cerca de uma hora de filme (Jack Ryan: Shadow Recruit), um cara chega perto de minha cadeira, empurra um crachá que tinha algum tipo de escudo nele, arranca o Google Glass do meu rosto e diz: “me acompanhe para o lado de fora imediatamente”. Foi bastante constrangedor e havia cerca de 5 a 10 policiais e seguranças do shopping fora do cinema. Dado que eu não peguei seu nome no escuro do cinema, eu pedi para ver seu crachá novamente, perguntei qual era o problema e pedi meus óculos de volta. A resposta foi “você está vendo todos esses policiais, então sabe que somos legítimos, estamos com o ‘serviço federal’ e você foi pego gravando o filme ilegalmente”.
  • Eu fiquei surpreso com isso e como eu obviamente estava apenas curtindo a noite de sábado com minha esposa e não gravando qualquer coisa legal ou ilegalmente, eu tentei explicar que isso era um mal-entendido. Eu tentei explicar que ele estava segurando um equipamento de hardware razoavelmente caro que me custou 1500 dólares pelo Google Glass e mais 600 dólares pelas lentes receitadas. A resposta foi ser revistado e ter mais coisas tiradas de mim (especificamente meu telefone pessoal, meu telefone de trabalho – ambos os quais foram desligados, e minha carteira). Após 20 a 30 minutos constrangedores do lado de fora do cinema, eu e minha esposa fomos conduzidos a duas salas separadas no escritório “administrativo” do Shopping Easton, onde o cara com o crachá se apresentou e me mostrou uma identificação diferente. Sua parceira também se apresentou e me mostrou um crachá de aparência semelhante. Nesse momento, eu já estava perturbado demais para lembrar seus nomes (para falar a verdade, mesmo agora, 30 horas mais tarde, eu ainda tremo quando tento relembrar os fatos).
  • O que se seguiu foi mais de uma hora de “federais” me dizendo que eu não estava preso, e que aquilo se tratava de uma “entrevista voluntária”, mas se eu escolhesse não cooperar coisas ruins poderiam acontecer comigo (a lei permite às autoridades ameaçar as pessoas dessa forma?). Eu dizia para eles que os óculos possuíam uma porta USB e eu não apenas os permiti, na verdade insisti que eles a conectassem e vissem que não havia nada lá além de fotos pessoais com minha esposa e meu cachorro. Eu também insisti que eles olhassem meu telefone e esclarecessem as coisas, mas eles queriam conversar antes. Eles queriam saber quem sou eu, onde eu residia, onde eu trabalhava, quanto eu recebia, quantos computadores eu possuía em casa, por que eu estava gravando o filme, para quem eu iria dar a gravação, por que eu simplesmente não entregava o meu superior, afinal de contas, não era em mim que eles estavam interessados. De novo, de novo e de novo.
  • Eu continuava dizendo a eles que eu não estava gravando filme algum – meu Glass estava desligado, e eles insistiam que haviam visto ele ligado. Eu lhes disse que haveria uma pequena luz saindo da telinha se os óculos estivessem ligados, e eu podia lhes mostrar isso, mas eles insistiam que eu não poderia tocar meus óculos porque tinham medo de que eu “apagasse a evidência que havia contra mim nos óculos”. Eu não tive a intuição de lhes dizer que os óculos ficavam bastante quentes se eles gravassem por mais do que alguns minutos e meus óculos não estavam quentes. Eles queriam saber onde eu havia adquirido os óculos e como eu fui capaz de adquiri-los. Eu lhes contei que eu me inscrevi mais de 1000 vezes para participar do programa de teste, e eventualmente fui escolhido, e que recebi os óculos do Google. Eu me ofereci a mostrar-lhes a nota e o site do Google Glass se eles me permitissem usar qualquer computador com acesso à Internet. Obviamente, não me deram essa opção. Depois eles queriam saber o que o Google me pediu em troca dos óculos, quanto o Google estava me pagando, quem era o meu patrão e por que eu estava gravando o filme.
  • Eventualmente, após um longo período de tempo, uma pessoa apareceu com um laptop e um cabo USB, dizendo que era minha última oportunidade de me esclarecer. Eu repeti pela centésima vez de que não havia nada a ser esclarecido e que isso se tratava de um grande mal-entendido, então o cara do FBI finalmente conectou meus óculos ao computador, descarregou todas as minhas fotos pessoais e começou a repassá-las uma a uma (apesar delas serem datadas e era óbvio que não havia nada em meus óculos que fosse do período no qual me acusavam de realizar uma gravação). Então eles vasculharam meu telefone, e, depois de 5 minutos, concluíram que eu não havia feito nada de errado.
  • Eu perguntei a eles por que eles não tiraram esses 5 minutos para fazer isso logo no começo do interrogatório e eles simplesmente saíram da sala. Um homem que afirmou que seu nome era Bob Hope (ele me forneceu seu cartão de visitas) entrou na sala, e disse que trabalhava para a Associação de Filmes e que eles tiveram um problema de pirataria naquela sala de cinema em particular, exibindo exatamente aquele filme. Ele me deu duas entradas gratuitas “para que eu pudesse assistir ao filme novamente”. Eu perguntei se eles pensavam que o meu Google Glass era tamanha máquina de pirataria, por que não me pediram para não usar dentro do cinema? Provavelmente, eu teria me sentado cinco ou seis fileiras mais perto da tela (já que eu não havia outro par de lentes comigo) e nada disso teria acontecido. Tudo o que ele declarou foi que a AMC o chamou, e ele chamou o FBI e “aqui estão mais duas entradas para me compensar pelo transtorno”. Eu ficaria bem com um simples “Sinto muito por isso ter acontecido, por favor aceite nossas desculpas”. Quatro entradas grátis serviram apenas para me enfurecer.
  • Considerando que eram 11h27 da noite quando isso aconteceu, e o filme começou às 7h45, acredito que as 3 horas e meia do meu tempo e o terror pelo qual passou minha esposa (que não sabia o que estava acontecendo, já que ninguém se importou em informá-la) vale aproximadamente uns 30 mil aos olhos da Associação de Filmes e da milícia federal (perdão, eu não consegui encontrar outra palavra depreciativa). Eu acredito que deveria processá-los por isso, mas não tenho tempo ou disposição para lidar com “quem é seu patrão – nós não queremos você, queremos o chefe” novamente, então simplesmente revelei tudo neste fórum, para que outros possam aprender a partir da minha experiência.
  • Acredito que, até que se familiarizem com o Google Glass e entendam o que eles são, as pessoas não deveriam usá-los no cinema. Eu gostaria que tivessem me dito alguma coisa antes de eu ir ao cinema, mas pode ter sido erro meu assumir que, se eu fui e assisti a filmes duas vezes – usando estes óculos – sem nenhum incidente, também não haveria na terceira vez. Quanto aos agentes federais e seu nível de compreensão… eu imagino que, se eles lidam com pequenos criminosos todos os dias, todas as pessoas passam a se parecer pequenos criminosos. Novamente, eu gostaria que tivessem me ouvido quando lhes disse como averiguar que eu não havia feito nada ilegal, ou pelo menos se desculpassem depois, mas veja… este é o país livre que todos louvam. Pode ser ainda pior em algum outro canto.
Louco, hein? A história dele parece algo retirado do filme de Jack Ryan que foi assistir com sua esposa. Existem outros usuários do Google Glass por aí que foram tratados mal apenas por conta de seus dispositivos? Se não, você está considerando usar um par para o próximo filme que for assistir?

Texto original

2 Comentários

  1. Gilberto

    Sinceramente, ele deveria sim processar o cinema, a associação de filmes e o FBI. Mesmo que isso seja, de certo modo, um transtorno. Mas não podem fazer isso e ficar por isso mesmo!

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  2. Claudemir Todo Bom

    A história é toda cabulosa… mas… o que aconteceria se o cara apenas pedisse o direito do advogado e que ninguém acessasse nada no Glass dele antes de ter um mandado? O abuso sobre os direitos começa quando as pessoas assim permitem!

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