Parar a pirataria? Alternativas legais são mais efetivas que ameaças legais…

out 25, 2016 | Artigos e Publicações, Compartilhamento de arquivos, Notícias | 2 Comentários

por Anders Bateva

Conforme reportado pelo Torrent Freak, um estudo publicado por pesquisadores do Reino Unido mostra que risco percebido não tem efeito nos hábitos de compartilhamento de arquivos. Ao invés disto, as indústrias de entretenimento deveriam focar-se em melhorar as opções legais, de forma que possam assim competir com o compartilhamento de arquivos.

No dia 20, a RIAA anunciou o maior crescimento de vendas de música gravada desde o fim da década de 1990: 8,1% de aumento comparado ao ano anterior. As músicas pirateadas continuam amplamente disponíveis, então porquê esses números-recordes? Os piratas todos de repente mudaram de ideia? O estudo publicado no periódico Risk Analysis (“Análise de Risco”) parcialmente responde a essa pergunta.

Os pesquisadores da Universidade da Anglia do Leste, Universidade de Lancaster, e Universidade de Newcastle descobriram que o risco percebido tem muito pouco efeito nos hábitos de pirataria das pessoas. Isto significa que punições mais severas ou leis de copyright mais estritas não são a resposta. Ao invés disto, o compartilhamento não-autorizado é mais previsível pelos supostos efeitos da pirataria. Assim, os pesquisadores dizem que alternativas legais melhores são a melhor forma de parar a pirataria.

Os resultados são baseados em um estudo psicológico entre centenas de consumidores de músicas e ebooks. Eles foram sujeitos a um conjunto de questões sobre seus hábitos de compartilhamento de arquivos, risco percebido, confiança na indústria, e anonimato online. Analisando estes dados, os pesquisadores descobriram que o benefício percebido da pirataria, como qualidade, flexibilidade de uso, e custo, são o real motivador da pirataria. Um aumento no risco legal não estava diretamente associado com nenhuma diminuição estatisticamente significativa em compartilhamento de arquivos auto-reportado.

Dado que nós observamos um preditor de comportamento muito mais poderoso no benefício percebido, alterações nos esquemas legais podem não ser a rota mais efetiva de mudar o comportamento. […] Especificamente, uma estratégia para combater compartilhamento ilegal de arquivos seria prover acesso fácil a informações sobre os benefícios de compras e serviços legais, em um ambiente no qual os benefícios específicos oferecidos pelo compartilhamento ilegal de arquivos sejam atendidos por estas alternativas legais.

Alternativamente, há uma rota mais indireta para influenciar a pirataria, que é incrementar a “confiança” que as pessoas têm nos reguladores. Isto poderia aumentar a percepção de risco, e também abaixar os benefícios percebidos da pirataria. Entretanto, os pesquisadores destacam que esta não é a opção mais eficiente.

No artigo deles, os pesquisadores mencionam serviços de assinatura como o Spotify como alternativas mais atraentes.

Isto leva-nos de volta à receita recorde que a RIAA reportou no dia 20, que pode ser atribuída ao crescimento de serviços legais. A RIAA destaca que, com a introdução do Tidal e Apple Music, receitas de serviços de assinatura dobraram, em comparação ao último ano.

Então, são as opções legais as responsáveis pelo recente crescimento de receita, não aplicação de leis anti-pirataria.

Claro, a ideia de que serviços de assinatura podem competir com pirataria não é nova. Quando o Spotify lançou sua primeira versão beta em 2008, o TorrentFreak declarou-o como “uma alternativa à pirataria musical”, e vários reportes têm mostrado que os piratas com felicidade migraram para bons serviços legais.

Os pesquisadores britânicos concluem também que alternativas legais são uma opção viável para diminuir a pirataria, uma que é preferível ao invés de ameaças legais.

Talvez não seja surpresa que intervenções legais a respeito de compartilhamento ilegal de arquivos têm efeitos limitados e possivelmente de curto prazo, enquanto serviços legais que competem com o compartilhamento ilegal têm atraído significante números de consumidores.

— co-autor Dr. Piers Fleming.

Mike Masnick, do Techdirt, que publicou o reporte “The Carrot or the Stick” no ano passado, destaca que a descoberta está alinhada com suas conclusões. De acordo com Masnick, agora há ampla evidência mostrando que a aplicação de leis não é a reposta para a pirataria, mas até agora, as partes interessadas relevantes continuam enterrando a cabeça na areia.

E, ainda assim, políticos, reguladores, e pessoal de indústrias legadas, ainda insistem que endurecer a aplicação das leis é o caminho. O que mais será necessário para que eles de fato sigam o que a evidência diz, ao invés de continuarem com políticas de copyright baseadas na fé?

— Mike Masnick.

2 Comentários

  1. HeDC.MarceloDC.Desenvolvedor

    Mas um problema continua. A prestação de serviço do streaming, ou seja, um trabalho logo nada mais natural que pagar. Agora “””direito””” autoral (fora patentes) é lastimável! Se trabalha, se ganha… normal. Mas CONTINUA a ganhar SEM trabalhar. A “lógica” DESONESTA do CRIME CONTRA A HUMANIDADE “””direito””” autoral (e patentes).

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  2. JOSÉ MÁRIO DE MENDONÇA LEMOS

    Esse artigo ressalta um pouco das minhas convicções de que muitas vezes ações de redução de preços para um preço justo dos serviços legais, poderiam diminuir ou extinguir a pirataria. Porque existe um crescimento de usuários assinantes do Netflix ? ou Spotify ? ou qualquer outro serviço com o mesmo proposito? Na minha opinião porque pagam um valor justo pelo o serviço. Como no Brasil um cidadão que recebe um salário minimo de R$ 880,00, vai pagar entre R$ 150,00 a R$ 250,00 reais por uma tv por assinatura?, ou comprar uma licença do Windows por R$ 300,00 ou Comprar um lançamento de um jogo por R$ 199,00 e por aí vai…

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