[Opinião]: “O que nos falta?”

mar 15, 2017 | Artigos e Publicações, Opinião PIRATA | 0 Comentários

Este é um texto de opinião, que não reflete necessariamente a opinião do PIRATAS.
por MrFrodo

O que nos falta? Há algum tempo estamos nos perguntando o que nos falta para repetirmos a tomada das ruas de assalto como foi nos idos de 2013. O que nos falta para, enquanto maioria esmagadora perante os poderosos, fazermos eles, os de cima, tremerem novamente? O que nos falta, diante de tantos absurdos e retiradas de direitos, fazermos ecoar novamente nossas vozes nas ruas de todo o país?

Razões não nos faltam. Aumento de repressão, aumento da austeridade, retirada de direitos, sucateamento de todos os serviços públicos essenciais, privatizações, crises em todas as instituições políticas e jurídicas, desemprego, encarecimento de tudo. Motivos não nos faltam. São tantas razões para nos fazer tomar o país inteiro de assalto novamente que chegamos em uma única conclusão: não nos falta nada, mas nos sobra.

Pois então o que será que nos sobra, já que estão tomando tudo de nós? Nossos direitos, nossas vidas e nossos empregos estão sendo tomados, o que nos sobra para impedir as maiores mobilizações da história desse país novamente?

Nos sobra o medo da agressão policial. Nos sobra o medo da prisão política. Nos sobra o medo da perseguição. Nos sobra a desesperança nas instituições, nos sindicatos, nos partidos e nas organizações. Nos sobra um enorme vazio político. Nos sobra a maior sensação de impotência que alguém pode sentir. Assistimos o noticiário descrentes do que nossos olhos vêem e lêem.

Ouvimos as declarações da classe política sem conseguir compreender como aquelas declarações são dadas à plenos pulmões em rede nacional, sem qualquer constrangimento. Observamos os sindicatos e organizações que historicamente estiveram ao lado das lutas populares se calando ou se vendendo. Tudo que deveria nos faltar, nos sobra. Não, não deve ser assim.

Devemos devorar nossos medos e fazer transbordar a revolta que sobra nas redes sociais para as ruas. Devemos nos armar com a coragem dos que estão na beira do abismo, onde a última opção é a coragem justamente pela falta de tudo. Só ela nos sobra. Ombro à ombro, irmãos e irmãs de luta, que sejamos novamente um o apoio do outro. Não há saída senão pela nossa própria luta e organização enquanto sociedade civil. Não será uma saída mágica que cairá dos céus, não, somente a luta política travada por baixo e à esquerda que sempre garantiu e expandiu os nossos direitos, somente essa luta nos garante o direito à vida. A história nos mostra isso sem qualquer dúvida, direitos não são concedidos pelas classes dominantes, mas são conquistados com sangue, suor e lágrimas do povo organizado.

Se os sindicatos, partidos e organizações tradicionais nos traíram e se cegaram com o brilho do poder então criemos nós as condições para superá-los. Façamos nós nossos partidos, clandestinos ou não. Façamos nós nossos sindicatos e associações. Façamos nós nossas organizações políticas. Sempre prezando a horizontalidade e o caminho por baixo e a esquerda. Sempre coletivo. Não esperemos heróis demagogos descerem dos céus, não irão aparecer. A classe política já tem seus vícios irremediáveis, o jogo político como é também.

Construamos nós nossas alternativas. É urgente. Se parecemos diferentes em alguns posicionamentos, táticas e estéticas temos que aprender a conviver com isso. Não podemos, sob pena de nos tornarmos inimigos de nós mesmos, criminalizar uns aos outros. Eles só parecem grandes e fortes porque nós estamos de joelhos, não se esqueçam. Não precisamos ser iguais, e nem devemos. Somos diferentes em todos os aspectos e assim devemos nos manter, mas com respeito e apoio mútuos. Se discordamos de determinado aspecto tático e estético de forma de manifestar, mas estamos num mesmo objetivo, devemos simplesmente respeitar e nos manter solidários. Jamais criminalizar o outro que luta ombro à ombro conosco, jamais criminalizar um irmão e irmã de luta.

A história está posta para nós, cabe a nós nos apoderarmos dos rumos que ela tomará. Seremos julgados pela história, seja por nossa omissão ou por nossa participação. Não podemos pelegar, por nós e pelas próximas gerações. A hora é agora. O lugar são as ruas!

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