Economia do compartilhamento substituirá o capitalismo, diz livro

jul 30, 2015 | Notícias | 5 Comentários

Trecho do livro “Sociedade com Custo Marginal Zero”, do futurólogo americano Jeremy Rifkin, que prevê a substituição do capitalismo pela economia do compartilhamento:

“O capitalismo está dando à luz uma descendência. Chama-se economia do compartilhamento. Esse é o primeiro novo sistema econômico a entrar no palco mundial desde o advento do capitalismo e do socialismo. A economia do compartilhamento já está mudando a forma como organizamos a vida econômica, oferecendo a possibilidade de reduzir drasticamente a divisão de renda, democratizar a economia global e criar uma sociedade mais ecologicamente sustentável.

Mercados estão começando a dar lugar a redes, a posse está se tornando menos importante do que o acesso, a busca do interesse próprio está sendo moderada pela pressão de interesses colaborativos e o tradicional sonho de enriquecimento financeiro está sendo suplantado pelo sonho de uma qualidade de vida sustentável. Os jovens colaborativistas estão tomando emprestado as virtudes do capitalismo e do socialismo e eliminando a natureza centralizadora tanto do livre mercado quanto do estado burocrático.

Esses jovens não apenas produzem e compartilham as próprias informações, entretenimento, energia renovável, imprimem em 3D e frequentam cursos online abertos a um custo marginal próximo de zero. Eles também compartilham carro, casa e até roupas em sites de mídia social, locadoras, clubes de redistribuição e cooperativas a um custo marginal baixo ou de quase zero.

Jovens empreendedores criam empresas ecologicamente sensíveis e novos negócios com a ajuda do crowdfunding. Com isso, o ‘valor de troca’ no mercado está cada vez mais sendo substituído pelo ‘valor de compartilhamento’. À medida que mais jovens passam a compartilhar seus bens e serviços, as regras que regem uma economia de mercado se tornam menos relevantes para a vida da sociedade como um todo.

Na fase atual, estamos testemunhando o surgimento de uma economia híbrida. Uma parte é uma economia de mercado capitalista e a outra é uma economia compartilhada. Mas, mesmo nesse momento muito inicial, tem se tornado cada vez mais claro que o sistema capitalista, que forneceu uma narrativa tão convincente da natureza humana, atingiu o auge e começou seu lento declínio.

Embora os indicadores da grande transformação para um novo sistema econômico ainda sejam suaves e, em grande parte, anedóticos, a economia de compartilhamento está em ascensão e, em 2050, provavelmente terá se estabelecido como principal árbitro da vida econômica. Um sistema capitalista cada vez mais ágil continua­rá a prosperar, encontrando vulnerabilidades para explorar, principalmente como um agregador de serviços de rede e soluções.

Entendo que isso pareça totalmente inverossímil para a maioria das pessoas, de tão condicionados que nos tornamos à crença de que o capitalismo é tão indispensável para nosso bem-estar quanto o ar que respiramos. Mas, a despeito dos esforços de economistas ao longo dos séculos para atribuir as premissas operacionais do capitalismo às mesmas leis que governam a natureza, os paradigmas econômicos são apenas construções do homem, não fenômenos naturais.

A razão de ser do capitalismo é levar cada aspecto da vida humana para a área econômica, na qual é transformado em uma mercadoria que será negociada como um bem. Muito pouco do esforço humano escapou dessa transformação. A comida que comemos, a água que bebemos, os artefatos que produzimos e usamos, as relações sociais em que nos envolvemos, as ideias que trazemos à luz, o tempo que gastamos e até mesmo o DNA que determina tanto do que somos, tudo foi lançado no caldeirão capitalista — sendo reorganizado, precificado e levado ao mercado.

Durante a maior parte da história, os mercados eram pontos de encontro ocasionais onde bens eram negociados. Hoje, praticamente cada aspecto de nossa vida cotidiana está de algum modo conectado a trocas comerciais. O mercado nos define. E, numa economia de mercado, o lucro é obtido nas margens. Por exemplo, como autor, vendo meu produto de trabalho intelectual para uma editora.

O livro, então, passa por diversas mãos em seu caminho até o consumidor, incluindo serviços de editoração e impressão. Cada parte envolvida no processo aumenta o custo da transação ao incluir uma margem de lucro. Mas e se o custo marginal de produzir e distribuir um livro despencasse para praticamente zero? Na verdade, isso já está acontecendo. Um número crescente de autores está escrevendo livros e disponibilizando-os por um preço muito baixo, ou até mesmo de graça, na internet.

Momento histórico

Atualmente, mais de um terço da raça humana está produzindo a própria informação e compartilhando-a por meio de vídeos, áudios e texto por um custo marginal próximo de zero. Essa revolução está começando a afetar setores como a indústria e a educação. Falo da impressão 3D e dos cursos online. Já existem milhões de consumidores que se tornaram produtores, gerando a própria energia renovável por um custo marginal próximo de zero.

Dentro das próximas duas ou três décadas, esses produtores-consumidores estarão produzindo e compartilhando energia renovável, assim como bens físicos e serviços. E, dessa forma, levando a economia mundial a uma nova era: um tempo em que as coisas serão praticamente gratuitas. Com isso, o mercado capitalista continuará a encolher. Empresas com fins lucrativos sobreviverão somente à margem da economia, com uma base reduzida de clientes de produtos e serviços altamente especializados.

A relutância atual em lidar com o advento do custo marginal próximo de zero é compreensível. Para poder entender as imensas mudanças econômicas, sociais, políticas e psicológicas que deverão vir é útil comparar este momento a outros igualmente disruptivos, como a passagem da economia feudal para a de mercado no final da Idade Média e, novamente, da economia de mercado para a economia capitalista na era moderna.”

5 Comentários

  1. Pequenos NegóCios

    Que texto irado! Já entrei no teu site antes, mas nunca tinha escrito um comentário.

    Coloquei seu site nos favoritos para não perder os próximos artigos.
    Nos falamos em breve, abraço!

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  2. Nave da Vertente

    Escrevi um livro – A Admirável Cidade Rural – dividida em Núcleo, setor 1 e setor 2. Ou seja, no núcleo morariam as pessoas de comportamento meritório e idealistas, em termos de convivência sadia, criatividade, proteção à infância e à velhice,bem como capitalismo comunitário. No setor 1,fixariam residência as pessoas de baixo comportamento meritório mas com a firme necessidade de adquirirem o comportamento dos habitantes do núcleo.E no setor 2 morariam as pessoas desejosas de continuarem com os mesmos vícios de suas cidades de origem: capitalismo selvagem, corrupção política e econômica e praticamente nenhuma vida ligada à espiritualidade. Ou seja, a cidade não seria dividida em 3 classes sociais baseadas na renda per capita e sim em 3 comportamentos diferentes.Edição eletrônica gratuita em [email protected]

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  3. Assis Utsch

    Quando o empresário junta sua iniciativa e sua capacidade para empreender, ele agrega capitais próprios e/ou de terceiros, matéria prima ou insumos, e contrata força de trabalho. E nesse processo – se tiver sucesso – ele estará se enriquecendo e simultaneamente criando bens e riquezas, utilidades, satisfazendo necessidades, remunerando trabalhadores, fornecedores, financiadores, transportadores, distribuidores, locadores, assistentes técnicos, pagando impostos, taxas, encargos sociais… . Embora todos esses custos sejam repassados ao consumidor, este se beneficia com a aquisição do produto final; e tal dinâmica sempre se iniciará com um empresário, um capitalista.
    Será que toda essa complexidade poderá ser substituída por compartilhamentos ? A propósito, toda essa gente que oferece suas ações colaborativas só o fazem porque têm atrás de si um suporte econômico. Desde Thomas Morus, passando por Max e muitos outros, todos previram o fim do capitalismo e isto não aconteceu.
    Ademais, o escambo – a troca de produtos por produtos é impraticável. Todos precisamos de dinheiro, e só o capitalismo gera dinheiro.

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    • Cristiano

      Isso mesmo. Produção de ACESSO A BENS E SERVIÇOS e não de meras cifras.
      Todos precisamos de espaços( de convivência, de privacidade, de trabalho), quantidade suficiente de água para higiene pessoal, para hidratação, para limpeza desses espaços (todas essas podem ser renovadas), educação, assistencia médica, lazer, transporte para tudo isso e mais alguns aspectos da existencia humana que fazem a qualidade de vida como a compreendemos. Você demonstra ter o preparo para entender tudo isso. Apenas pesquise quanto custa toda a vida de um – não – de um cidadão e meio de classe média, da Suécia, por exemplo. Depois pesquise a quantidade de renda produzida SÓ no ano de 2015. Você vai ficar surpreso com quanto dinheiro está sobrando – em algum lugar – e que poderia estar sendo compartilhado em linhas de crédito a juros baixíssimos (que gerariam mais renda) para grandes e pequenos empreendimentos destinados a mais melhorias da civilização. Atreva-se. Surpreenda-se e sinta a pergunta e a resposta surgirem em sua mente de homem da era da informação. Não é uma questão de filantropia ou religião, mas estou certo que “a verdade (incoveniente) o libertará” sem fazer você se sentir “uma droga de comunista”.
      Paz.

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