Uber e a maior ameaça à Economia do Compartilhamento

mar 3, 2016 | Notícias | 1 Comentário

por Neal Gorenflo

Nós temos uma escolha épica diante de nós entre plataformas cooperativas e plataformas Estrela da Morte e o tempo para decidir é agora. Essa talvez seja a mais importante decisão econômica que nós jamais fizemos, mas a maioria de nós nem sequer sabe que tem uma escolha.

E o que é uma plataforma Estrela da Morte? Bill Johnson do StructureC3 se referiu ao Uber e Airbnb como plataformas da Estrela da Morte em um chat recente. O rótulo me soou como surpreendentemente apurado: ele reflete a crua ambição e o poder focado dessas plataformas, particularmente o Uber.

A maior aposta do Uber é monopólio global ou falência. Eles coletaram mais de 8 bilhões dólares em capital de risco e estão no caminho de gerarem mais de 10 bilhões de dólares em receitas neste ano, além de um número estimado de 200.000 motoristas que estão destruindo a indústria de taxi em mais de 300 cidades em todo o mundo. Eles conseguiram fazer tudo isso em pouco mais de cinco anos. De fato, conseguiram alcançar um valor de mercado de 51 bilhões de dólares mais rápido que o Facebook e planejam arrecadar ainda mais dinheiro. Se tiverem sucesso, eles se tornarão a startup mais valiosa da história. Airbnb é quase tão grande e ambiciosa.

Plataformas cooperativas são a alternativa para Estrelas da Morte. Como Lisa Gansky afirmou, essas plataformas compartilham valor com as pessoas que as tornam valiosas. Plataformas cooperativas combinam uma estrutura cooperativa de negócios com uma plataforma online para entregar um serviço na vida real. E se o Uber pertencesse e fosse governado pelos seus motoristas? E se o Airbnb pertencesse e fosse governado por quem hospeda? Isso é o que um movimento emergente está explorando para toda a Economia do Compartilhamento em uma conferência que acontecerá em breve chamada Platform Cooperativism (Cooperativismo de Plataformas).

Compartilhamento ajudou a disseminar a história por trás das plataformas cooperativas no último ano em um artigo postado por Nathan Schneider, entitulado “Owning is the New Sharing”, juntamente com Trebor Scholz do New School. Esses dois formadores de opinião, assim como organizadores de conferências, identificaram uma onda de plataformas cooperativas se formando, mas ainda estamos no começo.

Que forças estão guiando o surgimento das plataformas Estrela da Morte? O que está em jogo?

Uber significa uma nova era de empreendimento tecnológico. Seus líderes expressam uma ideologia explicita de dominação e ausência de limites, uma ambição de caráter global. De fato, o setor tecnológico global talvez seja um dos mais poderosos atores não estatais no palco mundial hoje. E as plataformas Estrela da Morte estão na vanguarda deste setor.

Plataformas Estrela da Morte habilmente exploram a insegurança econômica crescente e o vácuo político. Seu modelo de negócios depende de trabalhadores autônomos que não possuem garantias e benefícios trabalhistas. Elas combinam tecnologia, ideologia, design, relações públicas, organização de comunidades e lobby em uma poderosa nova formulação que está conquistando cidades e usuários em todo o mundo. Elas se envolvem em uma atmosfera de progresso tecnológico, inevitabilidade do livre mercado e até mesmo bens comuns. Como resultado, as cidades permitem que eles quebrem suas leis com uma frequente surpresa (Uber e Airbnb são simplesmente ilegais na maioria dos países). Governos fracos de cidades ou aceitam as condições ou lutam para tentar conte-las.

A Geração Y – que o Pew Research descreveu como desligada de instituições e associada em redes com amigos e amigas, talvez seja a mais ardente usuária de plataformas Estrela da Morte. 50% da Geração Y não apresenta preferência política, um enorme aumento sobre gerações anteriores. E enquanto se mostra desligada de instituições tradicionais, ela cada vez mais se conecta por meio de Estrelas da Morte. A maioria usa esses serviços e implicitamente aceita suas ideologias uma vez que Estrelas da Morte disfarçam a complexidade de seus serviços – e de suas políticas – por trás de aplicativos esteticamente bem desenvolvidos.

Como resultado, essas pessoas – juntamente com muitas outras – se juntam inconscientemente a um movimento com objetivos totalitários, tudo pelo bem de rendas, poupanças e conveniências frequentemente negligentes. É algo assustador mas compreensível. A Geração Y estadunidense sofre do maior nível de endividamento e menor nível de emprego de qualquer geração desde a Grande Depressão. Sem mencionar que Estrelas da Morte frequentemente entregam um melhor serviço. Eu também as uso ocasionalmente.

Peter Thiel, fundador do PayPal e capitalista de risco líder da área de Economia do Compartilhamento, definiu a ideologia desse segmento em um artigo do Wall Street Journal com o título “Competition is for Losers”, no qual encoraja empreendedores a estabelecer monopólios. Marc Andreessen, outro investidor de risco da Economia do Compartilhamento, escreveu um artigo semelhante na mesma publicação três anos antes chamado “Why Software is Eating the World”, no qual ele declarou que não havia indústria que não pudesse ser desmontada por tecnologias web.

Por trás dessa retórica bombástica estão poderosos definidores das tendências atuais. Existem motivos lógicos, se não auto-interessados, para essa ousada chamada para a aventura direcionada aos investidores de risco. Uma corrida de ouro da tecnologia dramaticamente maior do que qualquer outra apenas começou a se desenvolver e Thiel e sua laia são os que mais têm a ganhar. O infográfico Collaborative Economy Honeycomb de Jeremiah Owyang mostra um grande e crescente universo de empresas desafiando dezenas de indústrias consolidadas. Isso está de acordo com uma recente pesquisa da IBM que identificou que o maior medo de executivos corporativos é a “uberização” de tudo. O fundador do Zipcar Robin Chase acredita que tudo que pode virar plataforma irá virar plataforma. Se for assim, então a economia do compatilhamento é apenas a ponta de lança, o primeiro passo de algo maior. O Vale do Silício pode se tornar O centro do poder do mundo, com seus líderes se unindo ao pequeno porém crescente grupo de plutocratas acima da lei e além de qualquer influência do Estado.

Essa é uma afirmação muito forte, mas que não está fora do campo das possibilidades. Existem alguns indicadores bastante convincentes.

Há uma explicação superficial, mas muito fundamental sobre isso. Startups de tecnologia estão construindo plataformas para competir em quase todo setor de serviços prestados fisicamente, e fazendo isso de uma forma global. Essas plataformas coordenam atividade econômica, mas não precisam ser donas dos principais recursos físicos ou empregar quaisquer provedores do serviço-fim para lucrar. O Uber não é dono de nenhum carro e não emprega nenhum motorista, mas dizimou o negócio de táxis em São Francisco.

Com custos incrivelmente baixos, alcance global, interfaces de usuários cientificamente desenvolvidas e financiamento massivo, plataformas Estrela da Morte vêm tentando duplicar esse tipo de sucesso em todas as principais cidades e setores de serviço ao redor do mundo. Isso deixa os investidores de risco salivando. A multidão de incumbentes espalhados através das muitas indústrias e geografias que jogam de acordo com as regras, encaram probabilidades extremas diante dos efeitos de rede, do caráter fora-da-lei e do poder focado das Estrelas da Morte.

Em um nível mais profundo, mudanças fundamentais em um mundo de startups estão à caminho. Startups de tecnologia PRECISAM se arriscar dentro do mundo de prestação de serviços presenciais uma vez que as frutos mais baixos da árvore das indústrias da informação já foram levados. Google, Facebook, Apple, Microsoft, Amazon e algumas outras já estabeleceram seus monopólios globais. A tecnologia deve deixar o seu ninho e as novas startups podem fazer isso porque é significativamente mais rápido, barato e menos arriscado começar empresas agora do que antes.

 

Empreendedorismo de Choque e Pavor

A criação nas linhas de montagem de startups de tecnologia já foi mais que aperfeiçoada. O Ecossistema guiado pelo Capital de Risco no Vale do Silício já reduziu o custo e o risco consideráveis de se começar um empreendimento. O financiamento atingiu níveis recordes. Existe um grande exército de profissionais que se especializam em desenvolver startups. A tecnologia também é barata, o que quer dizer que startups precisam de significativamente muitos menos financiamento do que antes… a menos que elas desejem abalar uma indústria de serviços presenciais.

Essas novas dinâmicas explicam o Uber. O Uber não captou quantidades recordes de capital de risco para desenvolver uma nova tecnologia. Sua tecnologia é vulgar. A maior parte dela foi desenvolvida por meio de programas governamentais financiados com dinheiro público americano há décadas atrás. Apenas combinaram uma velha tecnologia de uma nova forma, mas que é relativamente fácil de fazer. Os USD 8 bilhões que eles captaram é para estabelecer um monopólio global – no mundo físico, real – na menor quantidade de tempo possível. Isso exige muito marketing e trabalho feito em termos de lobbying, e isso é tudo muito caro.

Quais são os indicadores da ascensão do poder político de uma plataforma Estrela da Morte? David Plouffe do Uber, ex-gerente de campanha do Presidente Obama, literalmente sitiou o Prefeito de Portland, até o ponto de força-lo a criar uma política favorável. O artigo da Bloomberg “This is How Uber Takes Over a City” fornece uma narrativa esclarecedora sobre as táticas de força bruta utilizadas pelo Uber. Enquanto eu escrevia isso, o Airbnb está fazendo uma campanha de 8,3 milhões de dólares para derrotar um plebiscito na cidade de São Francisco voltado a limitar o impacto negativo da Airbnb sobre os cada vez mais caros custos de moradia na cidade. Essa atividade de lobbying é apenas a ponta do iceberg. Uber e Airbnb estão usando uma boa porção dos mais de 10 bilhões de dólares coletados em seus tesouros de guerra para contratar um exército global de lobistas. Usando sua própria linguagem, eles colocaram “tropas terrestres” em centenas de cidades.

Isso marca uma grande distância do passado. Os investidores da área de tecnologia costumavam evitar startups com risco regulatório significativo porque existe uma porção de oportunidades melhores e menos arriscadas. Esse não é mais o caso. Agora investidores de tecnologia devem e podem tomar o mundo físico.

Além disso, o investimento de grande porte aumenta e a fricção regulatória afetam muito mais do que a soma de suas partes. É como 1 + 1 = 10. Quanto mais o dinheiro das plataformas Estrelas da Morte aumenta, mais mídia e consumidores elas conseguem. Quanto mais elas quebram as regras, mais publicidade e consumidores conseguem, o que permite que ganhem ainda mais dinheiro. Greve de motoristas de táxi? Bingo! E o ciclo se repete. É um blitzkrieg. É um empreendedorismo de choque e pavor. É o som de um novo bloco hegemônico vindo ao poder.

Veja o que está em jogo. Enquanto Detroit moldou o mundo com a imagem do carro do século XX através de um sistema de estradas e subúrbios alienante e intensivo em recursos, o Vale do Silício pode moldar o mundo com a imagem das plataformas Estrela da Morte no século XXI.

Se você está ultrajado pelo poder das gigantes da tecnologia agora, então espere até que a indústria da tecnologia domine a maioria dos serviços que você depende para viver. Se você está preocupado sobre como as empresas de tecnologia usam suas informações pessoais agora, então espere até que elas possam te monitorar 24 horas por dia, 7 dias por semana, esteja você online ou não. Se você está frustrado sobre como as empresas de tecnologia ostentam poder sobre você como usuário agora, então espere até que você seja demitido através de um algoritmo por uma Estrela da Morte por causa de uma avaliação negativa aleatória. Se você acha as atuais empresas de táxi um saco, apenas espere até que uma gigante de tecnologia como Uber, disposta a tudo para vencer, domine o curral. Se a diversidade dos seus negócios locais já está sofrendo, então espere até que os aplicativos estéreis e centralizadores do Vale do Silício criem uma monocultura ainda mais entediante e menos resiliente. Se você está preocupado com os custos imobiliários, espere até que todo o mercado imobiliário fique igual ao de São Francisco, onde um apartamento de um quarto custa uma média de 3.500 dólares por mês, o mais alto dos Estados unidos. Se você está irritado com a desigualdade sem precedentes de hoje em dia, apenas espere que as plataformas Estrela da Morte destruam milhões de empregos (Uber mal pode esperar pelos carros sem motoristas, obaaaa!) enquanto transfere ainda mais risco e custo para seus provedores.

No pior dos casos, o que parece ser uma situação ruim para os 99% hoje pode se tornar muito, mas muito pior do que é hoje.

 

Plataformas Cooperativas, vocês são nossa única esperança!

Se plataformas cooperativas são nossa única esperança, então nós estamos com um problemão. Esse movimento está apenas em sua infância. Existem diversos desafios fundamentais e interligados, de ordem organizacional, financeira e legal, para o processo de formação de plataformas cooperativas. Novos modelos organizacionais precisam ser desenvolvidos, o que levará anos. Enquanto isso, as plataformas Estrela da Morte irão conquistar mais território em uma nova e mais rápida versão da Internet. Seu blitzkrieg global continuará acelerando.

A conferência mencionada anteriormente, Platform Cooperativism, espera direcionar isso através do que os organizadores estão chamando de festa de inauguração da internet cooperativa. Mais de 1.000 pessoas se registraram. Ativistas, empreendedores, advogados, sindicalistas, financiadores e acadêmicos estão se unindo para conceituar o movimento e começar a resolver os principais desafios de criar uma alternativa democrática para plataformas Estrelas da Morte. Seus organizadores esperam catalisar um movimento de plataformas econômicas de compartilhamento que são propriedade de seus provedores, onde motoristas ou anfitriões possuam o poder e não os investidores de risco. A conferência é uma resposta direta à ascensão das Estrelas da Morte e o tratamento que elas dão aos seus provedores.

A premissa central do cooperativismo de plataformas é que as pessoas que criam a maior parte do valor para as plataformas – provedores como motoristas e anfitriões – deveriam ser donas das plataformas e exercer o controle sobre elas. Arranjos atuais tendem à exploração de provedores quando Estrelas da Morte deslocam o custo e o risco de prover um serviço para quem está provendo tal serviço. Diferente da maioria dos provedores, tais como companhias de táxi ou hotéis, provedores de Estrelas da Morte são trabalhadores autônomos que não aproveitam os benefícios e proteções de pessoas permanentemente empregadas. Estrelas da Morte dependem desse arranjo para evitar os custos de gerenciar uma força de trabalho e para que possam crescer rapidamente. É verdade que Estrelas da Morte frequentemente conseguem prover um serviço superior alavancando uma tecnologia, mas elas provavelmente não seriam viáveis se não explorassem essa enorme vantagem relacionada aos custos trabalhistas.

 

O avanço da Aliança Rebelde

Exemplos de plataformas cooperativas são abundantes. Uma onda está se formando, mas a maior parte dos exemplos são experimentos corajosos no máximo. O artigo da Shareable “Owning is the New Sharing” lista muitos exemplos. Existe o Loconomics, a versão cooperativa do mercado de trabalho virtual TaskRabbit. Um dos experimentos de maior sucesso é o Enspiral Network, uma comunidade cooperativa e coletivo digital baseado na Nova Zelândia que permite que centenas de freelancers e empreendimentos sociais trabalhem juntos pelo benefício mutuo. Lazooz é a versão blockchain do Uber onde motoristas mineram moeda digital dando caronas, enquanto o Swarm é a versão blockchain do Kickstarter.

Esses exemplos representam três padrões comuns de desenvolvimento para plataformas cooperativas. Primeiro, existem as versões cooperativas legalmente definidas das plataformas da economia do compartilhamento como o Loconomics. Segundo são hibridos como Enspiral Network, que não são legalmente cooperativas mas operam sobre princípios similares e alavancando tecnologia digital. Então há uma opção mais escalável: plataformas cooperativas baseadas no blockchain como o Lakooz. Eles empregam e fortalecem a mesma tecnologia que o Bitcoin usa – um registro digital distribuído – para coordenar trabalho, dirigir a plataforma e distribuir propriedades.

Todos esses caminhos são válidos de se perseguir. Enquanto fazemos isso, precisamos tomar o cuidado de não duplicar a monocultura organizacional do Vale do Silício. No entanto, é importante reconhecer que esse movimento não irá produzir competidores viáveis rapidamente. O Vale do Silício levou décadas para aperfeiçoar a linha de montagem de startups. Esse movimento não deveria levar tanto tempo, já que o Vale do Silício já pavimentou muito do caminho. O movimento pode adaptar artisticamente a metodologia, modelo de negócios, design e o ecossistema de inovação de startups do Vale do Silício para lançar uma onda de plataformas cooperativas.

 

Como plataformas cooperativas podem derrotar Estrelas da Morte

Mesmo que muito do caminho já tenha sido trilhado, muito trabalho permanece. Abaixo existem cinco coisas que plataformas cooperativas devem fazer para derrotar plataformas Estrela da Morte. O que mais você adicionaria a essa lista?

 

1) Encubar os Modelos

Será necessário um esforço consistente, focado, e bem-administrado para resolver os desafios organizacionais, financeiros e legais envolvidos na formação de plataformas cooperativas. Plataformas cooperativas são um passo além das startups típicas, elas são um salto transformacional. O caminho é atualmente incerto, caro e consome tempo. Para dar um exemplo, a Loconomics esteve trabalhando em sua estrutura por cerca de dois anos e não está nem sequer em fase beta. Precisamos de um caminho melhor. Plataformas cooperativas precisam encarar esse desafio juntas com o apoio de longo termo de uma instituição mais estável servindo de âncora, como uma universidade. Essa forte barreira para formação de plataformas cooperativas deve ser reduzida ou esse novo momento irá morrer em seu berço.

Parte da magia de startups de tecnologia é que existe uma estrutura organizacional bem compreendida, métodos de financiamento e uma trajetória para empreendimentos disponível para uso. Em outras palavras, existe um modelo. Plataformas cooperativas precisam de modelos também, mas que suportem uma diversidade de padrões organizacionais. O que é necessário é um pequeno número de encubadores em diferentes cidades globais trabalhando juntos para dar origem a uma primeira onda de plataformas cooperativas. O truque é conseguir que as primeiras plataformas cooperativas sejam lançadas e então desenvolver um ecossistema global que encoraje a replicação de modelos de trabalho através de setores de indústria.

 

2) Oferecer um melhor serviço a um preço competitivo

Não vamos esquecer as bases de qualquer negócio. Plataformas cooperativas devem oferecer um melhor serviço a um preço competitivo para derrotar as Estrelas da Morte. Muito depende simplesmente de melhorar a execução do serviço a cada dia, mas estratégia também é fundamental. O desafio estratégico maior é descobrir como impulsionar a missão social e a estrutura democrática de plataformas cooperativas para ajudá-las a conseguir competir. Propriedade e controle por parte dos usuários oferece vantagens inerentes que se desenvolvem de um relacionamento de empoderamento e engajamento para outros usuários e para o próprio empreendimento. Plataformas cooperativas poderiam atrair usuários mais leais a um custo menor que Estrelas da Morte ao oferecer propriedade por parte dos usuários, por exemplo. Tudo mais sendo igual, os proprietários-usuários irão provavelmente entregar um melhor serviço que os trabalhadores autônomos desprovidos de garantias e benefícios trabalhistas. Plataformas cooperativas talvez sejam capazes de criar uma experiência comunitária mais profunda que Estrelas da Morte, que rotineiramente rejeitam a ética comunitária em favor do lucro. A missão social das plataformas cooperativas podem ajudala-las a acessar trabalho e capital a um preço menor do que cooperativas tradicionais. Elas poderiam ganhar uma vantagem de custos ao desenvolver uma infraestrutura de software comum ou usando plataformas de código aberto como ShareTribe e GNUsocial.

 

3) Levar cooperação a um novo nível

É quase desnecessário dizer que plataformas cooperativas devem cooperar, já que esse é o procedimento operacional padrão no mundo cooperativo. De fato, é o número seis dos amplamente aceitos Princípios de Rochdale. No entanto, plataformas cooperativas deveriam levar a cooperação para um nível mais avançado para explorar uma vantagem competitiva potencialmente decisiva sobre Estrelas da Morte. A natureza fechada das Estrelas da Morte que torna quase impossível para elas se engajarem em profunda colaboração entre cooperativas como a que vemos em regiões como Quebec (Canadá), Emilia-Romagna (Itália), no País Basco. Grupos de cooperativas pequenas a médias nessas regiões frequentemente competem com sucesso contra grandes multinacionais através de rede de contatos, colaborações formais e infraestrutura compartilhada tais como centros de pesquisa de mercado, bancos e universidades. Essas cooperativas colaboram de uma maneira mais profunda que empresas de tecnologia. De fato, elas agem quase como se fossem um mesmo organismo.

Plataformas cooperativas devem agir similarmente. Por exemplo, a substituição do Airbnb não deveria ser por outra plataforma centralizadora global mesmo se ela for cooperativa. Ela deveria ser uma federação de cooperativas de propriedade local que seriam interconectadas tecnologicamente (Fairbnb!). A plataforma de microblogging GNUsocial é um exemplo. Cada nó da rede está em um servidor diferente, mas usuários podem interagir por entre os nós. A vantagem é uma infra-estrutura resiliente, contralada por usuários e distribuída. Em Somero 2015, no último mês, o GNUsocial tomou um grande salto ao revelar a versão alfa de um módulo de hospitalidade chamado GNUbnb.

Plataformas cooperativas podem compartilhar muito mais que software incluindo dados, reputação digital, conhecimento, marketing, relações públicas, lobbying e espaço físico. E ainda compartilhar tudo isso em uma base global – como a proposta de Michel Bauwens de plataforma cooperativa aberta propõe – e entre várias indústrias. Cidades deveriam entrar no meio da ação também. Elas deveriam cooperar umas com as outras e com plataformas cooperativas para moldar uma economia do compartilhamento de acordo com o interesse público, como Janelle Orsi do Sustainable Economies Law Center recentemente sugeriu.

 

4) Criar um ecossistema para distribuir riqueza

O Vale do Silício indiscutivelmente cria e concentra mais riqueza do que qualquer outro lugar na Terra. Por trás desse fenômeno está um poderoso ecossistema que inclui: a Universidade de Stanford, as maiores empresas de capital de risco do mundo, uma cultura de empreendedorismo, serviços profissionais da melhor qualidade e outras coisas. Esse ecossistema deu origem às Estrelas da Morte e elas se beneficiaram muito disso. Plataformas cooperativas precisam de um ecossistema similarmente poderoso para competir, mas um que distribua a riqueza ao invés de concentrá-la. Essa é uma situação difícil, mas plataformas cooperativas talvez tenham aliados naturais ao criar um ecossistema incluindo governos de cidades, sindicatos, ONGs, Universidades, o movimento de software livre e aberto, juntamente com investidores sociais como cooperativas de crédito, fundos de investimento social e fundações. Foram muitas décadas para o “milagre” do Vale do Silício se desenvolver. Da mesma forma, será necessário um ecossistema para desenvolver esse movimento.

 

5) Desenvolver um movimento em massa

Plataformas cooperativas têm a oportunidade de canalizar uma grande quantidade de sentimento negativo ao redor de plataformas Estrela da Morte para fortalecer seu próprio movimento. Elas também podem entrar nessa corrente de conscientização que as Estrelas da Morte estão criando sobre a economia do compartilhamento e usá-la como fonte de impulso. No entanto, o movimento deve ser reconfigurado de pelo menos três maneiras para tomar vantagem dessas forças poderosas.

Primeiro, cooperativismo entre plataformas deve se tornar um movimento popular e transpartidário. Se o cooperativismo entre plataformas é a festa de inauguração para uma Internet cooperativa, então é algo bastante desigual. A lista de pessoas convidadas parece a escalação da seleção de elite de liberais de Nova Iorque. Dito isso, eu dou o devido crédito pela longa lista de parceiros, incluindo Shareable. Esse é um bom começo para se desenvolver um movimento, mas é preciso ir além disso.

Segundo, ela deve deslocar a ênfase dos argumentos morais em favor de plataformas cooperativas para argumentos de natureza prática que convençam pessoas comuns de que há algo de plausível em sua visão de mundo. Esperança é essencial! Assim como cooperativas tradicionais, plataformas cooperativas podem oferecer vantagens competitivas inerentes, incluindo estrutura superior de custos, melhores condições de trabalho, salários mais altos, melhor reputação, resiliência e alinhamento entre criadores de valor e recompensas. De fato, propriedade e controle compartilhado com os usuários talvez se torne uma necessidade, como uma vez argumentou Brad Burnham da Union Square Ventures, para plataformas competirem por consumidores enquanto outras vantagens são niveladas pelo mercado.

Em último lugar, a ênfase deve se deslocar das plataformas cooperativas formadas por provedores para um modelo de múltiplos acionistas que podem incluir provedores, clientes, fundadores, investidores, comunidades geográficas e a natureza. Plataformas cooperativas dirigidas por fornecedores talvez sejam um bom começo, mas eles eventualmente enfrentarão os mesmos problemas que surgem em qualquer organização onde apenas um acionista toma todas as decisões. Investidores são uma parte normal da composição de cooperativas tradicionais, então não há nenhum motivo para eles não estarem aqui, especialmente com seu poder em cheque como um de muitos acionistas.

Assim, há uma escolha épica diante de nós. Aceitaremos a monocultural, não-resiliente e entediante dominação feita pelas Estrelas da Morte? Uma dominação que será difícil de se desfazer uma vez que seja estabelecida. Uma dominação que coloca o mundo à disposição da ponta dos nossos dedos individuais enquanto retira nosso empoderamento coletivo. Uma dominação que pode danificar permanentemente a riqueza, a resiliência e as capacidades de nossas comunidades locais, como sugere Douglas Rushkoff.

Ou nós iremos trabalhar em conjunto para construir, como Charles Eisenstein definiria, o mais belo mundo que nossos corações sabem ser possível? Um mundo onde plataformas cooperativas manifestam o valor dos commons em cada comunidade. Onde nossa capacidade de gerenciar recursos juntos é profundamente respeitado. Onde controle policêntrico é algo disponível. Onde leis locais, costumes e culturas são honradas. Onde o auto-interesse e o bem comum estão alinhados. Onde nós estamos verdadeiramente vivos.

As probabilidades contra esse mundo mais belo são as mesmas que Luke Skywalker encarou contra a Estrela da Morte no Star Wars original. A chave para a vitória é a mesma também. Nós precisamos usar a força, mas a força não se trata de uma energia mística, a força está em nós.

Republicado do Shareable.

Neal Gorenflo é o co-fundador do Shareable, um portal vencedor de prêmios, ação e conexão para a transformação do compartilhamento.

artigo original aqui

1 Comentário

  1. gogol

    eu queria acrescentar algumas coisas, estão neste texto, são classificações diferentes mas se assemelham ao conceito estrela da morte.

    https://goo.gl/z5pzm6

    ABS, muito bom texto !

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