Refotografia: artista vende fotos “roubadas” do Instagram e “leva troco”

maio 31, 2015 | Notícias | 2 Comentários

Richard Prince, celebridade das artes de nossa época, expôs discretamente em setembro na galeria Gagosian, em Nova York, impressões de capturas de tela de diferentes contas do Instagram, sob as quais ele havia deixado um comentário. Este mês, a galeria volta a expor essas imagens com destaque na Frieze Art Fair, por um preço inicial de US$ 90 mil (R$ 286 mil). Elas venderam muito bem, segundo o site Vulture, e provocaram imensa indignação entre os usuários do Instagram.

Episódio 2: várias proprietárias dessas fotos “roubadas” decidiram responder oferecendo suas imagens por US$ 90 (R$ 286), relata o site Mashable. São exatamente as mesmas capturas de tela que as de Richard Prince. Os lucros serão revertidos para a Electronic Frontier Foundation, uma associação de defesa de direitos digitais.

Empréstimos, cópias e “refotografias”

As autoras dizem não querer processar Richard Prince na Justiça. Talvez seja uma decisão sensata, uma vez que o artista já é rato de julgamentos. Desde os anos 1970, ele vem praticando a “appropriation art” (arte de apropriação, na tradução livre), uma vertente de arte pop que defende o empréstimo, a cópia, a alteração intencional de imagens já existentes. Seria o equivalente ao “sampling” na música.

Prince ficou conhecido ao “refotografar” uma foto da atriz Brooke Shields aos 10 anos de idade, nua e maquiada, tirada em 1975 por Gary Gross para a revista “Playboy”. Ele a rebatizou de “Spiritual America”, título emprestado da foto de Alfred Stieglitz de um cavalo atrelado e castrado, e a expôs em uma moldurada dourada barata. Em 1999, essa obra foi vendida por US$ 151 mil (R$ 480 mil) na casa de leilão Christie’s.

Richard Prince também construiu sua reputação refotografando propagandas de Marlboro que mostravam caubóis a cavalo. Uma de suas séries, Untitled (cowboy), que hoje se tornou um ícone dos Estados Unidos, foi vendida por US$ 3,4 milhões (R$ 10,8 milhões) em 2008. Quando Jim Krantz, o fotógrafo que realizou a campanha da Marlboro, descobriu suas fotos desnaturadas no Museu Guggenheim de Nova York, declarou que não sabia se devia se “sentir orgulhoso” ou se considerar um “idiota”.

O artista acabou perdendo uma ação em 2013, iniciada pelo fotógrafo francês Patrick Cariou, autor de um longo trabalho sobre os rastafáris jamaicanos que Prince usou em colagens sobre telas, grafitou e pintou. A sentença, que condenava Prince a destruir várias de suas obras, foi em parte derrubada em apelação. O tribunal de Nova York considerou que a maior parte de suas imagens se encaixava no “fair use”, o direito norte-americano de citação em matéria de produção cultural, pois apresentavam uma estética diferente e não atingiam o mesmo público. Em suma, os amantes de fotografia documental de um lado, Jay Z e o oligarca Roman Abramovich de outro.

Suicide Girls e rebaixamento

Richard Prince se alinha com esse público. Seu trabalho é destinado ao mundo da mais-valia, do luxo, do capital cultural volátil. Ele celebra essa faceta de nossa época, e é isso que o interessa. O que há de engraçado e de sofisticado na resposta que as ‘instagrammers’ lhe deram ao venderem as imagens por US$ 90 enquanto são cotadas a US$ 90 mil, é o fato de eles jogarem no mesmo campo: elas literalmente desvalorizaram suas obras.

Essas jovens são membros do Suicide Girls, uma comunidade para modelos burlescas, que teve cinco fotografias reutilizadas por Prince. A criadora do site, Selena Mooney, diz o seguinte:

“Se eu recebesse cinco centavos cada vez que alguém usa nossas imagens sem autorização com intuito comercial, eu poderia gastar US$ 90 mil em uma obra de arte. Uma vez, fiquei realmente irritada com a [marca de roupas] Forever 21, que havia imprimido nossas imagens, quase sem alteração, em camisas. Mas um artista?”

Assim, Prince não é mais associado ao público ilustre que a galeria Gagosian convida para suas vernissages, mas sim a pequenos negócios não exatamente brilhantes que roubam imagens de garotas nuas no Google. Ele foi rebaixado.

O Instagram optou por se manter afastado da polêmica. O site defende implicitamente as autoras: “Os membros da comunidade do Instagram são proprietários de suas fotos, ponto”, declarou ao Mashable. O Instagram diz que pode combater as violações de direitos autorais dentro de sua rede, mas não fora dela, onde os usuários são convidados a se virarem sozinhos na Justiça.

Fonte Le Monde

2 Comentários

  1. Rafael

    Usar foto dos outros em colagens até vai, mas expor e vender print-screen do instagram é roubo, ponto. Pode ser famoso, rico, etc., mas se não tem capacidade de criar não é artista.

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  2. Cavalo

    Na boa. Mas na boa mesmo. Pirataria nao e crime, eh arte!!!!!!!!! Quem comprou e pagou caro eh gente que quer rasgar dinheiro mas tem medo de ser chamado de louco.

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