por Birgitta Jóndóttir*

A  decisão do Primeiro Ministro em não renunciar em meio ao anúncio do escândalo do Panama Papers é profundamente danoso para nosso país e um sinal de que nossa constituição precisa ser completamente remodelada.

O Primeiro Ministro Sigmundur David Gunnlaugsson esteve em todas as primeiras páginas dos jornais em toda a Europa – com seu rosto colocado junto ao do Presidente russo Vladimir Putin – pelo seu envolvimento com uma empresa offshore que operava em segredo e alegadamente ocultou milhões de dólares em investimentos.

As reportagens de notícias da Islândia no domingo à noite detalharam que o escândalo repercutiu entre a sociedade islandesa de uma forma semelhante a como ocorreu durante o despertar da crise financeira de 2008. Naquela época, Gunnlaugsson chamou os credores dos bancos falidos de “abutres”, mas ao que parece ele também poderia estar se referindo a si mesmo e sua esposa.

Políticos de todo o espectro político estão chocados com o primeiro ministro não vendo uma razão para renunciar. A cada minuto que ele permanece no poder, ele está danificando nossa reputação aos olhos do mundo.

Mas a coisa mais importante é que o Primeiro Ministro perdeu completamente a confiança dos eleitores. Será muito difícil para os membros dos partidos com representação no parlamento defenderem o primeiro ministro no voto de desconfiança que nós esperamos que vá ocorrer nos próximos dias.

Você pode perceber a raiva entre os islandeses. Milhares de pessoas participaram de protestos fora do parlamento da nação na última noite e eu espero que os manifestantes continuem até que o primeiro ministro renuncie ou que um voto de desconfiança tire ele do cargo.

Eu me uni a esses protestos e anunciei que estarei me posicionando por eleições pelo Partido Pirata para um mandato curto, onde implementaremos e legalizaremos uma nova constituição. A próxima eleição está definida para ocorrer em 27 de abril de 2017, mas o Partido Pirata e os partidos de oposição têm clamado pela antecipação das eleições.

Atualmente estamos experimentando eventos similares ao que a Islândia experimentou no despertar da crise financeira em 2008. E ainda não temos um sistema satisfatório para aqueles que estão no poder prestarem contas àqueles que estão fora do parlamento gritando. A constituição que implementamos foi escrita pelo e para o povo da Islândia em 2011 em resposta a crise financeira. Incluía a separação dos poderes para prevenir outro colapso econômico, enquanto também alterava a forma que Primeiros Ministros seriam eleitos e juízes eram indicados. É completamente inaceitável que apesar do referendo em 2012 que viu 67% do eleitorado votar por uma nova constituição escrita de forma colaborativa, ainda não ter iniciado o processo. É difícil dizer em que estágio exatamente as ramificações deste escândalo estão, mas é óbvio que a reputação de nossa nação será severamente afetada, simplesmente porque nós somos o único país da Europa Ocidental com um ministro em exercício – e ainda mais um primeiro ministro – que está diretamente implicado com este escândalo.

Se isso fosse uma comédia seria engraçado, mas na verdade este é o nosso chefe de estado. Isto não reflete os islandeses nem a Islândia.

*Birgitta Jóndóttir é a líder parlamentar do Partido Pirata islandês, um movimento internacional por direitos digitais e reforma democrática que é maior partido político do país. Em meio a protestos em Reykjavik sobre ligações do primeiro ministro com paraísos fiscais estrangeiros, todos os partidos de oposição pediram juntamente pela sua renúncia e o Partido Pirata também reivindicou por uma nova constituição escrita pelo e para o povo da Islândia durante o despertar da crise financeira, que deveria ter sido implementada como prometido depois de um referendo nacional em 2012, reivindicação que foi ignorado.

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