Os custos esquecidos: Por que as tarifas de ônibus aumentaram tanto no Rio?

jan 6, 2016 | Notícias | 1 Comentário

Por Daniel Duque*

Já tão comum quanto os fogos de artifício em Copacabana, o carioca mais uma vez viu a tarifa da passagem de ônibus aumentar acima da inflação. Em 2016, o transporte mais utilizado na cidade passará a custar R$ 3,80, um reajuste de 11,7% diante de uma expectativa de inflação de 10,7% no Brasil.

De fato, não é a primeira vez que temos passagens de ônibus mais caras, mesmo descontando o aumento geral do nível de preços – de 2008 até agora, o ônibus aumentou de preço em nada menos do que 81%. De fato, muito acima da inflação de 56,6% (IPCA-15) do Rio de Janeiro no mesmo período. Isso significa que a passagem ficou 15,6% mais cara em termos reais, termo economês para aumentos acima da inflação.

gráfico 1

O que poderia explicar tamanho reajuste, muito acima da média dos bens e serviços do Rio de Janeiro no mesmo período? Aumento dos custos reais de operação que sejam específicos do mercado de ônibus seriam em tese um bom motivo para um aumento dos preços em tamanha magnitude, e Eduardo Paes, junto à Fetranspor, costuma citar alguns dele para justificar tal reajuste. Entre eles, estão a obrigação de uma frota 100% com ar condicionado e o aumento do preço do diesel nos últimos anos.

A meta de 100% frota com ar condicionado, no entanto, não será cumprida, sendo que a expansão de menos 30% até então, foi, no mínimo, decepcionante. Quem sabe não seja então por causa do preço do diesel, que vem efetivamente aumentando nos últimos anos além da inflação?

No entanto, de acordo com dados da própria Fetranspor até 2014, vemos que Eduardo Paes esqueceu de mencionar alguns custos que atenuaram o aumento do Diesel. O consumo médio desse combustível, por exemplo, se reduziu em 7,4% desde de 2008 devido a políticas ativas da Prefeitura de Eduardo Paes, como o BRS, que reduziu os pontos de paradas dos ônibus ao longo de seu itinerário.

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Outro fator decisivo na redução do custo médio foi o aumento de passageiros pagantes por viagem. Como os custos variáveis das empresas de ônibus estão associados às viagens que cada ônibus faz, quanto maior o número de pagantes, menor o custo médio do serviço e menor o preço final da tarifa.

Como se vê no Gráfico, de 2008 a 2014, o número médio de passageiros pagantes cresceu nada menos do que 15,9%. Um aumento significativo, e que poderia ter sido um fator de peso para reduzir o preço das passagens, ou pelo menos frear o seu aumento.

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Enquanto a receita gerada pelo número de passageiros pagantes aumentou, o custo de outros dois estagnaram, ou se reduziram. O primeiro caso é o pessoal empregado na folha de pagamentos da empresa. De 2008 a 2014, o número de pessoas empregadas nas empresas de ônibus variou 0,15%, um aumento nada significativo. Consequentemente, a razão entre pessoal ocupado e passageiros pagantes se reduziu em cerca de 20%, como mostra o Gráfico abaixo.

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E graças às políticas ativas da Prefeitura de dupla função do motorista e cobrador, é bastante provável que essa relação tenha se reduzido ainda mais em 2015 – algo que se repetirá em 2016.

O mesmo ocorreu com o número de gratuidades oferecidas pela Prefeitura ao longo do período de 2008 e 2014. Enquanto o número de pagantes aumentava, o número de usuários que desfrutavam de passagem gratuita se reduziu em 13,2%, de modo que a porcentagem de gratuidades por passagem caiu de 22,3% para 20% nesses seis anos. Nada disso, no entanto, apareceu em uma planilha que fosse do calculo da tarifa ao longo desses anos.

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O que pode, portanto, explicar o aumento das tarifas dos ônibus acima da inflação ao longo desses oito anos? Por que nenhuma dessas reduções de custos foi levada em consideração pelas empresas de ônibus, apesar dos dados claramente as evidenciarem? Na economia, aprende-se que o preço se compõe entre três fatores: o consumo intermediário, os salários e os lucros médios. Dada essas informações, repasso ao leitor a responsabilidade da reflexão necessária para responder tais perguntas.

* Daniel Duque é graduando em economia pela UFRJ, é editor do Mercado Popular, não é associado ao PIRATAS mas curte o rolê

1 Comentário

  1. abelardo

    Dívida por causa do financiamento de campanha da Fetranspor, que investe no PMDB há anos.

    O Eduardo Paes não vai frear esse aumento, pq ele foi comprado pela Fetranspor pra garantir esse aumento.

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