O Herói, o Gênio e as Redes

jan 25, 2014 | Cultura Digital, Internet, Notícias | 0 Comentários

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por Mateus Bispo

“Houve um tempo em que os gigantes andavam sobre a Terra entre os homens. E eles eram filhos dos deuses e faziam grandes coisas…”. Este parece o início de mais uma lenda qualquer, mas é um mito recorrente em muitas civilizações ao redor do mundo. No judaico-cristianismo, por exemplo, haviam os filhos dos anjos, entre gregos e romanos semideuses. Mesmo entre nossos heróis modernos é muito comum sua linhagem remontar a alguma raça, clã, grupo nobre ou a um grande homem sobre quem projetavam a condição de herói predestinado. Alguém acima do humano ordinário.

O mito do herói nasce em parte da busca pela iconização de uma perfeição física, moral e intelectual possível e alcançável dentro da condição humana, bem como a idealização da possibilidade de um prometido, um messias, um salvador capaz de resgatar a humanidade de seus problemas e vicissitudes, ao mesmo tempo em que nos afasta de qualquer responsabilidade de auto aperfeiçoamento para atingir esse mundo melhor.

Quando o mundo era mais simples, rústico e essencialmente militar, o herói era um homem dotado de grande força física, capaz de derrotar exércitos sozinho, assim como portador de grande beleza e virilidade. Na nossa era do conhecimento, lentamente passamos a idolatria da razão e do conhecimento. Transformamos a força em inteligência e o herói em gênio. Os criadores solitários de um mundo melhor, mais belo, mais justo. Como se qualquer criação ou descoberta humana não fosse resultado da longa produção cientifica e artística precedente. Como se Einstein não fosse herdeiro de Copérnico e Galileu. Como se Picasso não fosse herdeiro de Michelangelo e Da Vinci. Mas, mais importante do que isso, como se todos esses não fossem resultados diretos ou indiretos das centenas de anônimos que construíram a longa estrada de ligação entre os nomes citados.

É chegada a hora de reconhecer que o homem é fruto de um universo de artes, de músicas, de poesias e de ciências anteriores e externas a sua própria existência, a quem ele deve sua referência e toda e qualquer produção. O intelecto humano é uma fábrica de reconstrução, numa eterna dança de refazenda. Nessa perspectiva, a humanidade continua sua busca pelo perfeito idealizado, por um mundo melhor, pela utopia, e começa a procurá-la em um outro lugar. Não mais no mitológico fruto da união entre humano e divino, nem nos solitários gênios inspirados, mas no ser humano imperfeito, falho e incompleto que está ao seu lado.

A matemática da rede é no mínimo surpreendente. Nela, a soma das fraquezas e imperfeições resulta em força; a soma dos conhecimentos limitados produz a mais surpreendente genialidade; e a soma das pequenas criatividades lança as mais inesperadas inventividades. Mas, sobretudo, a rede devolve ao indivíduo a responsabilidade da condução dos seus caminhos e o poder de mudar a vida de seus semelhantes.

É justamente aí que reside a importância da antipersonalismo e do colaborativismo pirata, pois eles são um reconhecimento do fato de que a rede, o coletivo, é superior, mais completo e mais sábio que qualquer indivíduo que o compõe. Ao mesmo tempo, mostra que é completamente dependente das contribuições e da construção possibilitada pela efervescência de ideias nascidas do encontro permanente de opostos, unidos pela força do objetivo comum.

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