I’ll @brokep your Mac! Peter Sunde fala na casa Nuvem

abr 30, 2015 | Agenda e Eventos, Cultura Digital, Destaque, Notícias | 1 Comentário

Entre “filhos do silício” e terráqueos, Peter Sunde fala na casa Nuvem

por KANNON (com Dioclown)

“Lamento que vocês tenham assistido a este filme. É tedioso e sombrio. Não representa os tempos divertidos que eu passei com o Pirate Bay.” – Peter Sunde, após a exibição do documentário TPB AFK (The Pirate Bay Away from Keyboard)

É uma agradável noite de outono no Rio de Janeiro e uma multidão se aglomera em frente à Casa Nuvem, situada em uma pequena rua entre os bairros da Lapa e da Glória para assistir ao filme supracitado. Entre eles, Peter Sunde, que, acomodado em um sofá no meio da rua, faz agora uma breve apresentação. O documentário narra o julgamento dos três fundadores do Pirate Bay, o “site de torrents mais resiliente da Internet” – muito embora o ilustre convidado não seja considerado tão fundador assim.

Peter Sunde e o Presidente

Sunde não esconde suas divergências com os ex-companheiros de Pirate Bay: “Eles estão presos na Suécia. Eu estou livre e no Rio de Janeiro. Deve ser Karma!”

A tradução simultânea para português, a cargo de Lívia, gera divertidas reações. “Me parece que você fala mais com as mãos do que com as palavras”, provoca Sunde. Em um momento, um homem com chapéu de pirata se senta no sofá. É Sérgio, conhecido como “Presidente”, figura carimbada do círculo de ativismo do Rio. Peter provoca mais uma vez: “Ele é o presidente? Me parece bem melhor do que o Lula.”

Uma, duas, três vezes. Sunde reclama com o operador dos slides pois alguns vídeos e imagens parecem travar. É Cinco, um dos idealizadores da Casa Nuvem, que está operando a projeção via um laptop MacBook, do próprio Sunde.

“A culpa não é minha. Use Linux. Apple é um lixo!”, reclama Cinco, irônico. Afinal, não deveria um ativista pela descentralização da Internet usar e promover softwares livres? Cinco faz um trocadilho com a palavra “quebrar” em inglês e o nickname de Peter Sunde: “I’ll brokep your Mac!”

É improvável que Sunde algum dia vá eclipsar a fama que transformou o Pirate Bay em uma força mítica definitiva do nosso tempo. Mas houve momentos em que Sunde não se sentiu à vontade com os efeitos dessa reputação. Seu artigo no TorrentFreak “O Movimento Pirata está morto” e suas declarações críticas ao Partido Pirata ainda geram repercussão. “O que você realmente quis dizer sobre o Partido Pirata?”, pergunta um jovem enquanto é possível ouvir algumas vaias precipitando a resposta, ao que Peter responde: “Eu nunca disse isso. Eu disse que só me importo com as causas!” Alguém grita “Cuidado com o que você vai dizer ou eles vão te meter a porrada!” Este “eles” se refere aos entusiastas e membros do Partido Pirata no Brasil (incluindo este que vos escreve) que foram ali saber afinal qual é a de Peter Sunde.

Além do filme e do próprio Sunde, o evento tem no cardápio música, drinks e comida vegetariana (incluindo um delicioso cuscuz marroquino). A discussão vai seguindo e as pessoas passam a fazer perguntas sem sentido (algumas nem de fato perguntas são). Tudo muito descontraído, divertido – mas caótico. Sunde desiste e passa o microfone para seu amigo Holmes Wilson do Fight for The Future, organização esta que contou com o apoio de grandes corporações (como a Google) contra o projeto de bloqueio e censura chamado SOPA (Stop Online Piracy Act). Holmes pretende trazer essa iniciativa ao Brasil.

Eu tento fazer alguma pergunta mas o caos impera e também desisto. Enquanto Holmes tenta responder sobre “filhos do silício e terráqueos”, Sunde está posando para fotos com um rapaz vestindo uma camisa do Partido Pirata. Eu aproveito a deixa para fazer alguns questionamentos.

 

Você ignorou completamente os piratas no Brasil.

Eu não tenho obrigação nenhuma com o Partido Pirata. Apesar de ter sido candidato pelo partido, eu jamais fui um membro de fato. E a minha crítica é mais voltada à Escandinávia, onde o Partido Pirata está repleto de membros da direita que se recusam a avançar em temas como imigração.

Eu posso te dizer que, após um grande racha entre os piratas no Brasil, este é um ponto superado e a tese de focar apenas em “Compartilhamento e Privacidade” foi completamente derrotada. 

Eu tenho muito orgulho dos piratas na Islândia. Eles conseguiram se tornar a maior força política no país, mesmo sendo um país pequeno. Construíram uma plataforma expandindo seu leque para vários temas. Na verdade, eu li sobre os resultados da última assembleia no Brasil e gostei muito. Mas, mesmo assim, acredito que vocês precisam desenvolver mais suas propostas.

Estamos fazendo isso. No próximo Encontro Pirata (4, 5, 6 e 7 de Junho, em Belo Horizonte) estaremos discutindo, entre outros temas, sobre Abolição do Sistema Prisional.

Me parece promissor.

O seu amigo Holmes, do Fight for The Future, pareceu bem entusiasmado sobre a decisão de Neutralidade de Rede nos EUA pela FCC (Federal Communications Comission). Mas não foi exatamente uma vitória, não é? No Brasil também não. Com o Marco Civil, a Neutralidade não foi assegurada.

Acho que é preciso entender as peculiaridades de cada país; seus sistemas de tramitação de leis, de lobby e regulamentações. Pra você pode não ter sido realmente uma vitória, mas quando se está disposto a entrar na política, é preciso ceder e é preciso ocupar os espaços.

Fico feliz que você tenha vindo ao Brasil e esteja aqui na Casa Nuvem, mesmo neste caos. É muito mais interessante do que estes eventos governistas tediosos como a Cryptorave em São Paulo.  É mais autêntico, se é que você me entende.

Eu estou me divertindo! (risos) Olha, Sergio Amadeu e Marcelo Branco são caras poderosos. Eles têm contatos, eles têm força para serem ouvidos e para fazer acontecer. Se o Partido Pirata no Brasil quer ser relevante, ele não pode escolher com quem vai conversar. É preciso falar com todos e marcar posição, mesmo que seja pra dizer que eles estão todos errados.

FOTOS DO EVENTO (retiradas da página do Facebook do evento – créditos diversos)

 

1 Comentário

  1. João Moreno

    Cryptorave é governista????? Não houve uma palestra que não criticasse duramente as decisões do governo brasileiro. Adoraria saber porque você acha o evento governista.

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