A maioria dos governos não têm os recursos para fabricar a tecnologia de vigilância que é necessária para invadir os computadores e celulares dos cidadãos desavisados, a título de protegê-los de coisa pior.
Nos últimos anos, as empresas privadas de software de vigilância entraram em cena para preencher essa lacuna.
por KaNNoN
Neste fim de semana, os italianos da empresa Hacking Team sentiram o gosto do seu próprio veneno. A empresa, que é responsável por muitos dos softwares de vigilância usados em vários países, viu serem roubados mais de 400GB de dados, entre eles informações sensíveis dos seus clientes e também vários código fonte das suas aplicações.
O ataque foi realizado por uma equipe de hackers que agora colocou online toda a informação que conseguiu recolher durante este ataque.
Os serviços da empresa italiana são contratados por todo o mundo — inclusive no Brasil, como revelam os documentos. A sua aplicação mais conhecida, a Da Vinci, é usada por muitas forças policiais por todo o globo, em ações de vigilância e de controle.
Entre os documentos estão incluídas contas de serviços prestados para a polícia italiana, Omã, Coréia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Cazaquistão, Mongólia, Líbano, Arábia Saudita, Singapura, Egito, México e Brasil.
BRASIL
A empresa Hacking Team descreve seu negócio como “fornecer ferramentas para organizações policiais e outras agências governamentais que podem prevenir crimes ou terrorismo”, mas os documentos, se forem autênticos, sugerem que ela pode estar disposta a vender a atores não-estatais também. Aparentemente, uma fatura revela que a empresa tratou com uma empresa privada brasileira, a YasNiTech, a quem vendeu o acesso de três meses para a sua ferramenta de acesso remoto, permitindo a invasão de gadgets Android, telefones Blackberry e dispositivos Windows.
Não sabemos se esta venda foi parte de um contrato mais amplo com o governo brasileiro ou de que forma a YasNiTech teria relação com nosso Governo ou polícia.
Em consulta no site da Receita, a YasNiTech foi aberta em Fevereiro de 2013, como “planejamento financeiro e administrativo”. Porém, em Maio de 2015, foi publicada no Diário Oficial de São Paulo a mudança para “consultoria e serviços de tecnologia da informação”.
INIMIGOS DA PRIVACIDADE
O aplicativo Da Vinci, e em particular a Hacking Team, é categorizada por muitos grupos como um inimigo da Internet, por fornecer a seus usuários acesso a informação particular e muito sensível dos cidadãos.
A Hacking Team sempre se defendeu destas acusações, alegando que apenas negocia com governos que sejam éticos (sic) na utilização das suas ferramentas.
Os dados agora roubados foram retirados de dentro da rede da Hacking Team e contemplam informação sensível de vários governos, nominalmente e-mails, gravações de áudio e até código fonte das várias aplicações desta empresa.
Para além de toda a informação sendo publicada no Twitter, onde se incluem screenshots de vários documentos e mensagens de e-mail, os atacantes publicaram também parte da informação diretamente na Internet, através das redes Torrent, liberando esse conteúdo para o público em geral.
Dos dados já analisados, estão presentes informações que contradizem a Hacking Team e os governos com quem alegadamente tem negócios. É possível ver países que, segundo várias organizações, usam o Da Vinci para espionar os seus cidadãos (o que demonstra, é claro, a mencionada “ética” dos governos que contratam o serviço).
A Hacking Team ainda não veio a público comentar este incidente e informar aos seus clientes quais as medidas que foram ou serão tomadas para aumentar a segurança da sua rede.
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