Ciências Econômicas são uma perda de tempo

abr 15, 2019 | Notícias | 0 Comentários

por Peter Radford, em dois artigos originalmente publicados aqui e aqui

O texto abaixo foi composto de dois artigos do blog do autor. Escritos em um tom de desabafo, eles descrevem muito bem a frustração atual dos pesquisadores e estudantes da área de economia em aplicar seus conceitos em problemas do dia a dia

 

Pronto, falei.

Existe um ponto quando todos nós temos que parar de bater a cabeça contra a parede e apenas dar um passo para trás. Por que, nós nos perguntamos em tais momentos, ainda estamos perdendo nosso tempo? A muralha é irremovível. Ela é indiferente aos nossos esforços. Ela é sólida. Ela tem a aparência de permanência. Ela não irá se mover.

Então se afaste.

Faça alguma outra coisa.

Ao invés de Ciências Econômicas, vá e estude a Economia.

Muitas pessoas estão perdendo muito tempo falando sobre economistas como se eles estudassem a economia. Eles não estudam. Eles realmente e verdadeiramente não o fazem. Eles vivem em um mundo pós-fatos. De fato, antes que se tornasse moda gritar essa frase – Trump e seu regime é em grande parte “pós-fato” – economistas tem repetidamente negado fatos, ignorado a realidade e vivendo em um mundo de fantasia de suas próprias criações.

Economistas estudam ciência econômica. E ciência econômica não é a economia. É um conjunto auto-contido de ideias, modelos, teorias, intricamentos matemáticos e axiomas que são desenvolvidos para prover um excitante passatempo intelectual àqueles inclinados a ocupar a si mesmos com tal atividade. É cuidadosamente construída para parecer como se tocasse a realidade. Ela ainda contem palavras que fazem parecer como se ela se relacionasse com a realidade. Economistas discursam de maneira confiante sobre assuntos do dia a dia. E economistas preenchem todas as principais posições chave relacionadas com condução, regulação e mensuração da economia.

Mas tudo isso é uma ilusão

De uma checada no que eles aprendem na escola. De uma espiada no conteúdo do que eles acreditam. Observe o que é levado em conta para se tornar um economista respeitado.

E então tente conectar isso com o que você vê à sua volta.

Existe pouca ou quase nenhuma conexão. É como se os meteorologistas previssem o tempo sem sequer olhar pela janela. Ou como se físicos insistissem que a gravidade jogasse coisas para cima mesmo diante de evidência contrária. Alice e seu espelho não relatam nada sobre a habilidade dos economistas de questionar o mundo em que eles mesmo vivem.

Mas talvez não se trate de questionar ou não.

Outro atributo de economistas é a sua pose de observador desinteressado da sociedade descrevendo de maneira rebuscada as “profundas leis” que os humanos são tolos o suficiente para se lançarem contra. Eles projetam um ar de análise sóbria. Eles buscam injetar disciplina e rigor na confusa arena de interação humana. Eles querem que nós acreditemos que o que eles descrevem é inevitável. E então eles assumem para si mesmos o papel de guardiões de como aquilo deveria ser.

Não, não é questionamento. É ativismo.

Ao se aventurar em um ambiente intelectual selvagem e ao se absterem de nutrir da diversidade e complexidade da realidade, eles retornaram convencendo a si mesmos em seu delírio de fome que eles descobriram as maneiras pela qual a sociedade deve conduzir seus afazeres.

As Ciências Econômicas, em todas as suas tonalidades dominantes, é profundamente normativa. É uma tentativa de ditar as formas em que nós ordenaremos nossa atividade econômica.

Nós sabemos disso pela maneira como ela lida com a ação coletiva. Ela desaprova esse tipo de atividade em cada abertura e fissura visível. Ela é totalmente comprometida com o indivíduo atuando como agente central. E ao indivíduo é presumido atuar de maneira desumanamente racional.

É por isso que as ideias Keynesianas sobre a eficácia de se se examinar macro ou meta temas foram consideradas apóstatas e tiveram que ser radicadas ou mutiladas de modo a serem neutralizadas politicamente.

É por isso que a crítica marxista é ignorada, como se relações de poder não tivessem nenhuma significância social.

É por isso que considerações sobre gênero e minorias são vistos como irrelevantes.

É por isso que instituições são desprezadas em sua importância teórica.

É por isso que o conhecimento nunca encontrou seu caminho dentro do núcleo da tão chamada “função de produção”.

É por isso que variadas fantasias do equilíbrio geral são toleradas pelas pessoas com vastas habilidades analíticas e os quais, portanto, deveriam saber mais.

É por isso que teóricos do crescimento se mostram contentes com modelos que preveem apenas uma pequena porção do crescimento – o restante eles afirmam ser um mistério.

É por isso que teorias da firma são desesperançosamente conflitantes com as as firmas em que eles trabalham.

É por isso que peculiaridades como a noção de “análise marginal” existem. Construtos maravilhosos e interessantes intelectualmente, mas não encontrados na natureza, eles nos distraem de localizar explicações melhores, mais práticas e reais sobre os artefatos econômicos.

E a lista segue em frente.

Tudo isso já foi dito antes. Só que de maneira muito mais eloquente.

Portanto, meu conselho é que você estude economia ao assistir aulas de política, sociologia, filosofia, negócios e teoria organizacional. Informe-se sobre teoria da informação. Construa aqueles modelos baseados em agentes. Vá e fale com trabalhadores, lojistas e todas as outras pessoas do mundo real.

Mas fique longe de Ciência Econômica.

Especialmente se você é sério sobre a economia.

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Equilíbrio, uma erva-daninha que precisa ser arrancada

Quão negativo você precisa ser pra conseguir atenção? Existem certas coisas bobas na economia que precisam ser removidas para que algo melhor possa emergir. Algumas vezes, eu apenas afirmei que a coisa toda é uma perda de tempo. Afinal, economia não é simplesmente um corpo de conhecimento, mas também um fenômeno social que possui sua própria linguagem, suas próprias estimativas de qualidade, sua própria hierarquia e sua própria história que está amarrada de maneira firme ao longo de um caminho específico.

E, francamente, esse caminho já se perdeu.

Leia essa trecho bem humorado de um dos grandes pensadores da área:

“Da mesma maneira que nós mensuramos gravidade e seus efeitos através do movimento do pêndulo, talvez nós possamos estimar a igualdade ou a desigualdade dos sentimentos pelas decisões da mente humana. A vontade é nosso pendulo e suas oscilações são meticulosamente registradas pela relação de preços dos mercados. Eu não sei quando teremos um sistema estatístico perfeito, mas o desejo por isso e o único obstáculo insuperável no caminho de fazer da Ciência Econômica uma ciência exata” – William Stanley Jevons

Bem, nós não sabemos do que se trata o “sistema estatístico perfeito” do Jevons. Nós nunca o teremos. Um sistema econômico é complexo demais para se encaixar em qualquer estatística que Jevons poderia imaginar. Talvez ele estivesse sugerindo isso ao dizer que sua ausência fosse um “obstáculo insuperável”.

De qualquer forma, toda essa busca pelo equilíbrio já confundiu a Ciência Econômica por tempo suficiente. Essas referências mecânicas para sistemas perfeitamente oscilantes que vão vagarosamente se reduzindo sob a influência da gravidade são totalmente inapropriados para alguma coisa como a economia. Equilíbrio é uma perversa erva-daninha. Ela infesta o nosso jardim. Ela nos distrai da realidade. Arranque ela fora!

A medida que vou ficando velho eu tenho cada vez mais desprezo pela estupidez incorporada pela noção de equilíbrio. É algo que economistas usam para evitar conflito com a complexidade da realidade. Era uma ideia ousada e popular antigamente, quando economistas estavam abobados pela sua inveja da Física. Ela é irrelevante e provavelmente gera ilusões no contexto de nossa moderna compreensão da realidade. Ela se encontra disponível junto ao ferramental intelectual não porque ela é útil, mas porque ninguém ousa falar a verdade: ela é uma erva-daninha. Arranque fora.

Se nós queremos seguir em frente nós precisamos parar de usar a palavra e a ideia que ela introduz. Certamente a inclusão de uma referência ao equilíbrio deve ser um motivo de desqualificação na escrita acadêmica das Ciências Econômicas daqui por diante. Exceto, naturalmente, quando ela for incluída na história desse assunto como um exemplo de algo que deveria ter sido jogada fora como impeditivo para o progresso.

Além disso, ainda que alheio acerca de quais sejam suas origens, equilíbrio se tornou uma ferramenta ideológica. A futilidade de se opor ao supostamente inexorável movimento do livre mercado como inevitavelmente entrando em equilíbrio é um grande e poderoso argumento daqueles que negam a validade do governo como um agente econômico positivo. E, já que o governo são “Nós, o povo” agindo de maneira organizada, equilíbrio se tornou, consequentemente, uma ferramenta anti-democrática. Nossa resistência não tem outro propósito que não seja nos impedir de ter qualquer tipo de pensamento não alinhado ao mercado que possa surgir.

Equilíbrio começou como sua vida ilusória como uma iluminação sobre a magia luminosa do mercado. Ela então se tornou um companheiro distópico por trás dos panos no qual os oponentes da democracia passaram a agir.

É uma erva-daninha. Ela é tóxica. Arranque fora.

 

Peter Radford é editor da Radford Free Press, trabalhou como analista em bancos por mais de quinze anos e tem diplomas tanto da London School of Economics, quanto da Harvard Business School.

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